"Renda-se, como eu me rendi.
Mergulhe no que você não conhece como eu mergulhei.
Não se preocupe em entender, viver ultrapassa qualquer entendimento."

(Clarice Lispector)

O Beijo

O Beijo
Gustav Klimt (1907)
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quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Tema de destaque 15 - Maternidade parte 1 - Gerar um filho

Gosto de falar tudo muito explicado para não dar margem a dúvidas. Por isso, tenho a tendência de buscar o começo, a origem das coisas, a essência das pessoas. Então, para falar de maternidade, nada mais justo do que relembrar os primórdios: a escolha de gerar um filho. De repente trinta anos na cara. Parece um lugar comum, ou soa como uma idade mágica, um número cabalístico que afeta as mulheres e provoca nelas um desejo desesperado de ser mãe. Não é bem assim, mas saliento que faço parte da geração mamãe anos 2000, em que a maioria das mulheres desfruta de um espaço diferenciado na sociedade. Dedicamos mais tempo à nossa vida profissional, casamos mais tarde e, naturalmente, acabamos deixando a maternidade em segundo plano ou algo para ser concretizado quando tudo estiver conforme nossos critérios de estabilidade emocional, financeira e intelectual.


Comigo foi assim. O relógio biológico fez tic-tac e despertou o desejo adormecido. Tomou conta de mim, uma vontade visceral de ser mãe. Sentia que faltava algo para completar a minha vida depois de ter estudado anos a fio; uma graduação, uma especialização, um mestrado e um relacionamento estável de dez anos. Olhando do ponto de vista da racionalidade pragmática, o momento não era o mais apropriado, mas agora que tudo passou, vejo que não poderia ter sido diferente.

Tinha acabado de pedir demissão do meu emprego para me dedicar aos estudos novamente, só que com outro objetivo: passar em um concurso público. Parecia tudo sob controle; um ano estudando, no seguinte fazendo as provas... Não era possível que não desse certo, pensei, tomando como base a minha disciplina espartana. Já tinha iniciado as aulas em um cursinho preparatório ainda trabalhando, durante o aviso prévio. Mesmo com toda a vontade de ser mãe aflorando à flor da pele, não estava muito certa se era o momento apropriado. Mas por indicação médica tive que interromper o uso de anticoncepcionais e... batata! Dois meses depois estava grávida! Completamente grávida! Sem nenhuma sombra de dúvidas.

Os primeiros momentos foram de muita festa. Comemoração com a família e um brinde a aquele serzinho sem nome, sem sexo e nenhuma identidade, mas que já comovia os nossos corações. Entretanto, depois de um mês na minha nova rotina, a ficha caiu. Bateu um desespero enorme que me engolia a cada dia me tirando o chão e qualquer sensação de segurança. Nunca tinha ficado sem trabalhar, sentindo-me completamente dependente e ainda mais sob os efeitos de zilhões de hormônios e substâncias corporais. De uma hora para a outra, apelando ao desespero, tentei fazer algo para atenuar a situação. Fui atrás de um novo emprego. Tive uma breve alegria de ter meu currículo escolhido em três seleções para cargos maravilhosos. Só tinha um detalhe: a minha total sinceridade nas entrevistas e o fato de ninguém querer contratar uma mulher grávida de 3 meses!

Fiquei arrasada com tudo isso, mas aos poucos, e com muita ajuda e paciência do meu companheiro, fui voltando a um estado mais próximo do normal. Entrei na hidroginástica, levantei da cama depois de um período de depressão, creio eu, e voltei à luta. Entendi aquelas negativas como um sinal da vida me dizendo que deveria continuar com meus planos. E assim o fiz. Tive uma “DR” comigo mesma, pedi perdão ao meu bebê por todas as aflições que ele deve ter sentido dentro da minha barriga, e só então passei a curtir a gravidez com leveza e muita alegria. Queria que ele soubesse que minhas preocupações estavam associadas à minha necessidade exagerada de ser boa provedora, para que nada lhe faltasse. Portanto, tentei apagar qualquer traço de lamentação ou de tristeza. Afinal de contas aquela criaturinha tinha sido concebida com muito amor.

Com a calma sob o controle da minha mente, experimentei cada momento e sentia todas as mudanças. Tudo estava bem novamente. Não tive enjôos nem indisposições. E a libido; foi a mil!!!! Um cuidado especial que tive foi a ingestão de florais receitados pela minha mãe. Cada um tinha um significado; fortalecer os laços entre mãe e filho; estimular a produção de leite; dar disposição, além de outros aspectos necessários a uma mãe de primeira viagem. Aos quatro meses, senti ele mexer pela primeira vez. Parecia uma leve sensação de cócegas provocada pelo movimento de abrir e fechar das asas de uma minúscula borboleta. Estava no momento de relaxamento da aula de hidroginástica e ele veio todo pra frente, formando uma bolinha que dava para ver sob a pele. Naquele momento, senti uma emoção inexplicável, tive a certeza de que estava gerando uma vida dentro de mim.

Durante os meses seguintes, passei a conversar com ele diariamente. Tínhamos os nossos rituais repletos de carícias na barriga com a ajuda de cremes e óleos relaxantes; ouvíamos músicas com toques delicados; a escolha do enxoval; os enfeites. Logo fiquei sabendo que era um menino e o tema de decoração do quarto foi dos transportes, em tons de azul e verde. Mudamos para um apartamento maior um mês antes do nascimento dele e o quartinho foi pintado e decorado com nossas próprias mãos. Em cada detalhe colocamos todo o nosso carinho e percebemos como é grande a capacidade de amar alguém.

Recordo que o apoio da minha irmã foi fundamental para o meu equilíbrio. Ela se antecipava e explicava tudo, todos os detalhes a cada mês. Em quase todas as consultas de pré-natal contamos com visitas tão curiosas como nós, os pais corujas. Uma semana antes do previsto, numa manhã de domingo, acordei e a bolsa tinha rompido. Minha mãe tinha chegado no dia anterior para o chá de fraldas. Como gostaria de tentar o parto normal avisei à minha médica e fui deixar a casa em ordem. Coloquei as roupas sujas na máquina para lavar, depois para secar no varal, varri a casa, arrumei a malinha da maternidade. E depois fomos à casa da minha irmã. Já era hora do almoço e uma feijoada nos esperava. Às 15:30h minha médica falou que não dava mais para esperar e me pediu para ir ao hospital. Fomos todos em comboio; avós, tios, primos, sobrinhos, gato, cachorro e papagaio. Como a dilatação não passava de 3 cm e já tinha perdido muito líquido amniótico, tivemos que recorrer à cesárea.

Não poderia estar melhor assistida: o papai era o médico auxiliar, minha irmã a fotógrafa, minha cunhada filmava todos os detalhes e o anestesista também era uma figura conhecida. Tudo aconteceu muito rápido. Anestesia na coluna; empurra daqui e dali e, de repente o choro. Meu e dele! Um por experimentar, pela primeira vez a vida literalmente entrar pelo nariz e eu, por sentir toda a emoção que um ser humano é capaz de sentir em poucos segundos. Hora do nascimento: 16:09. A mão do papai tremia ao cortar o cordão umbilical. Os meus olhos transbordavam de lágrimas e estavam curiosos para conhecer aquela pessoinha que tinha habitado o meu ventre nos últimos nove meses.

Finalmente chegou o nosso momento. Ele sentiu o meu cheiro e rapidamente se aquietou. Fez todo aquele ritual; pesar, medir altura, limpar secreções e tudo mais. Na sala de recuperação já deu a primeira mamada. Era muito guloso e logo secou o peito que mais parecia uma bola de futsal. Cheguei ao quarto primeiro e fui recebida por todos. Parecia um grande evento na maternidade. Os funcionários falaram que nunca tinham tido uma paciente que recebera tantas visitas de uma só vez. Alguns minutos depois ele fez sua entrada triunfal, todo embrulhadinho em uma manta verde e guardadinho em um berço de acrílico. Passou de colo em colo, posou para fotos e mais fotos. Imediatamente foi apelidado de bebê Big Brother. Confesso que, mesmo mergulhada naquele carinho todo, não agüentava mais esperar para tê-lo em meus braços. Alôôôôôôôô! A mãe aqui sou eu! Eu quero lamber a minha cria recém parida!

Quando finalmente todos saíram para comemorar o nascimento do pimpolho em uma pizzaria, minha mãe trouxe o meu anjinho na cama e só então pude ver todos os detalhes daquele rostinho meigo. Cinco dedinhos em cada mão, cabelos escuros como os meus, o corpinho minúsculo e vermelho, e os olhos do pai. Em poucos segundos já havia decorado cada pedacinho dele, até uma marquinha, tipo uma queimadura, na mão esquerda. Nossa primeira noite juntos foi inesquecível. Ele se agarrou no peito e só largou na manhã seguinte. Dormimos abraçados, eu e o meu grande tesouro. Ali senti que algo tinha mudado por dentro, algo mágico e imperceptível aos olhos. Estava encantada com aquele ser tão pequeno, frágil, indefeso e completamente dependente do meu amor.

Senti uma alegria tão grande ao amamentar, um estado de êxtase que parecia ter chegado a hora de morrer. Então fiz um acordo com Deus, antes mesmo de ir pra casa. Eu não poderia deixar este mundo antes de o meu pequeno completar 18 anos. Espero que ele cumpra. E se não cumprir terá que lidar com a ira de uma mãe enraivecida! Depois de toda a história contada, o ponto que gostaria de ressaltar dessa breve experiência é o fato de que apenas uma ou duas gerações depois, a escolha de gerar um filho é algo que pode despertar sentimentos completamente diversos dos vivenciados em épocas pretéritas. Em pouco tempo, é possível experimentar alegrias e tristezas, numa alternância entre desespero e lucidez, mesmo em situações tão favoráveis como as minhas.

Por outro lado, não há nada mais próximo do divino, neste planeta, do que a sensação de oferecer seu corpo como casa e princípio da vida para abrigar o desenvolvimento e a sobrevivência dos primeiros meses da vida de outro ser. Quando isso acontece, ficamos envolvidos por um amor que precede identidade, sexo, e ultrapassa qualquer desafio, inclusive a possibilidade de gerar um bebê especial. Somos movidas por um sentimento que desafia espaço, tempo e direção. E só então, só experimentando a sensação de segurar seu filho no colo, alimentá-lo, providenciar seus cuidados diários 24 horas por dia, só assim, é possível compreender por um instante o ditado que diz: amor de mãe é tudo.

Anne Frank - Trechos do diário (Museu em Amsterdã)

“April 9, 1944
One Day this terrible war will be over. The time will come when we will be people again and just Jews! We can never be just Dutch, or just English, or whatever, we will always be Jews as well. Bet then, we’ll wait to be.”

“July 11, 1942
We have to wisper and treak lightly during the day, otherwise the people in warehouse might hear us.”

“December 24, 1943
I long to ride a bike, dance, whistle, look at the world, feel young and know that I’m free.”

“February 17, 1944
The best remedy for those who are afraid, lonely or unhappy is to go outside somewhere where they can be quite alone with the heavens, nature, and God.”

Depoimento do pai dela: Otto Frank, 1970
“We cannot change what happened anymore. The only thing we can do is to learn from the past and to realize what discrimination and persecution of innocent people means. I belive that it”s everyones’s responsibility to fight prejudice.”

“Adormeço com a idéia tola de querer ser diferente do que sou, ou de que não sou como queria ser. E de que faço tudo ao contrário.”


“Aquele que é feliz espalha felicidade.Aquele que teima na infelicidade, que perde o equilíbrio
e a confiança, perde-se na vida.”

“Viro o meu coração do avesso. O lado mau para fora, o bom para dentro e continuo a procurar um meio para vir a ser aquela que gostava de ser, que era capaz de ser, se... sim, se não houvesse mais ninguém no mundo.”

“(…)fico tão confusa pela quantidade de coisas que tenho de considerar que não sei se choro, ou se riu depende do meu humor. Depois durmo com a sensação estranha de que quero ser diferente do que sou, ou de que sou diferente do que quero ser, ou talvez de me comportar diferente do que sou ou do que quero ser.”

“Ao longo de todo o tempo em que aqui estive, ansiei inconscientemente - e por vezes conscientemente - por confiança, amor e afeição fisica. Este anseio pode variar em intensidade, mas está sempre presente.”

Martha Medeiros - Pensamentos

“Eu triste sou calada
Eu brava sou estúpida
Eu lúcida sou chata
Eu gata sou esperta
Eu cega sou vidente
Eu carente sou insana
Eu malandra sou fresca
Eu seca sou vazia
Eu fria sou distante
Eu quente sou oleosa
Eu prosa sou tantas
Eu santa sou gelada
Eu salgada sou crua
Eu pura sou tentada
Eu sentada sou alta
Eu jovem sou donzela
Eu bela sou fútil
Eu útil sou boa
Eu à toa sou tua.”

“Saudade é não saber. Não saber o que fazer com os dias que ficaram mais compridos, não saber como encontrar tarefas que lhe cessem o pensamento, não saber como frear as lágrimas diante de uma música, não saber como vencer a dor de um silêncio que nada preenche.”

“Sempre desprezei as coisas mornas, as coisas que não provocam ódio nem paixão, as coisas definidas como mais ou menos, um filme mais ou menos ,um livro mais ou menos. Tudo perda de tempo. Viver tem que ser perturbador, é preciso que nossos anjos e demônios sejam despertados, e com eles sua raiva, seu orgulho, seu asco, sua adoração ou seu desprezo. O que não faz você mover um músculo, o que não faz você estremecer, suar, desatinar, não merece fazer parte da sua biografia.”

"Meu mundo se resume a palavras que me perfuram, a canções que me comovem, a paixões que já nem lembro, a perguntas sem respostas, a respostas que não me servem, à constante perseguição do que ainda não sei. Meu mundo se resume ao encontro do que é terra e fogo dentro de mim, onde não me enxergo, mas me sinto."

“Quando olho para o meu passado, encontro uma mulher bem parecida comigo - por acaso, eu mesma - porém essa mulher sabia menos, conhecia menos lugares, menos emoções.”

"Desaprender para aprender. Deletar para escrever em cima. Houve um tempo em que eu pensava que, para isso, seria preciso nascer de novo, mas hoje sei que dá pra renascer várias vezes nesta mesma vida. Basta desaprender o receio de mudar"

“Gaste seu amor. Usufrua-o até o fim. Enfrente os bons e os maus momentos, passe por tudo que tiver que passar, não se economize. Sinta todos os sabores que o amor tem, desde o adocicado do início até o amargo do fim, mas não saia da história na metade. Amores precisam dar a volta ao redor de si mesmo, fechando o próprio ciclo. Isso é que libera a gente para ser feliz de novo.”

"Quero saber, entre todas aquelas que eu sou, quem é a chefe, quem manda dentro de mim."

"Em tempos em que quase ninguém se olha nos olhos, em que a maioria das pessoas pouco se interessa pelo que não lhe diz respeito, só mesmo agradecendo àqueles que percebem nossas descrenças, indecisões, suspeitas, tudo o que nos paralisa, e gastam um pouco da sua energia conosco, insistindo."

"Vida é memória.
Dei pra pensar que tudo que há de mais vivo em mim foi aquilo que já se foi.
As pessoas mais importantes foram as que ficaram."

"Para saber quem somos, basta que se observe o que fizemos da nossa vida. Os fatos revelam tudo, as atitudes confirmam. O que você diz - com todo respeito - é apenas o que você diz."

"Quero ventilação, não morrer um pouquinho a cada dia sufocada em obrigações e em exigências de ser a melhor mãe do mundo, a melhor esposa do mundo, a melhor qualquer coisa. Gostaria de me reconciliar com meus defeitos e fraquezas, arejar minha biografia, deixar que vazem algumas idéias minhas que não são muito abençoáveis."

“Assim como tem gente que para vencer o alcoolismo evita dar o primeiro gole, algumas pessoas precisam aprender a evitar o primeiro beijo para não reincidir num amor que faz mal à saúde.”

“De mim, que tanto falam
Quero que reste o que calei
Que tanto rezam por mim
Quero que fique o que pequei
De mim, que tanto sabem
Quero que saibam que não sei...”

“... Não consigo molhar os pés apenas
eu mergulho e só paro quando me afogo
eu me queimo e só paro quando derreto
eu me jogo e só paro quando me param.”

"Ninguém ama outra pessoa porque ela é educada, veste-se bem e é fã do Caetano. Isso são referências, só. Ama-se pelo cheiro, pelo mistério, pela paz que o outro lhe dá, ou pelo tormento que provoca. Ama-se pelo tom de voz, pela maneira que os olhos piscam, pela fragilidade que se revela quando menos se espera. Amar não requer conhecimento prévio nem consulta ao SPC. Ama-se justamente pelo o que o amor tem de indefinível. Honestos existem aos milhares, generosos tem às pencas, bons motoristas e bons pais de família, tá assim, ó. Mas só o seu amor consegue ser do jeito que ele é."

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Frases de Amor - Pensadores diversos

“Amo como ama o amor. Não conheço nenhuma outra razão para amar senão amar. Que queres que te diga, além de que te amo, se o que quero dizer-te é que te amo?”
(Fernando Pessoa)

“Amar os outros é a única salvação individual que conheço: ninguém estará perdido se der amor e às vezes receber amor em troca.”
(Clarice Lispector)

“O amor é o sentimento dos seres imperfeitos, posto que a função do amor é levar o ser humano à perfeição. Como são sábios aqueles que se entregam às loucuras do amor!”
(Joshua Cooke)

“Cada qual sabe amar a seu modo; o modo, pouco importa; o essencial é que saiba amar.”
(Machado de Assis)

“Amar é ultrapassarmo-nos.”
(Oscar Wilde)

“Amar não é olhar um para o outro, é olhar juntos na mesma direção.”
(Antoine de Saint-Exupéry)

“Aprendi que não posso exigir o amor de ninguém...
Posso apenas dar boas razões para que gostem de mim...
E ter paciência para que a vida faça o resto...”
(William Shakespeare)

“A cada dia que vivo mais me convenço de que o desperdício da vida está no amor que não damos, nas forças que não usamos, na prudência egoísta que nada arrisca e que, esquivando-nos do sofrimento, perdemos também a felicidade.”
(Carlos Drummond de Andrade)

“Se um dia tiver que escolher entre o mundo e o amor... Lembre-se. Se escolher o mundo ficará sem o amor, mas se escolher o amor com ele você conquistará o mundo.”
(Albert Einstein)

“Saudade é amar um passado que ainda não passou
É recusar um presente que nos machuca
É não ver o futuro que nos convida...”
(Pablo Neruda)

“Ame profunda e passionalmente. Você pode se machucar, mas é a única forma de viver o amor completamente.”
(Dalai Lama)

“Quem de dentro de si não sai, vai morrer sem amar ninguém...”
(Vinícius de Moraes)

“Um coração feliz é o resultado inevitável de um coração ardente de amor.”
(Madre Teresa)

“Onde o amor impera, não há desejo de poder; e onde o poder predomina, há falta de amor. Um é a sombra do outro.”
(Carl Jung)

Tema de destaque 14 - Com os olhos do amor

Quando o amor por outra pessoa é verdadeiro, sempre que há o envolvimento profundo com entrega, naturalmente emergem sentimentos muito fortes. Não reconhecemos algo racional que possa explicar os acontecimentos, mas também não faz diferença descobrir o porquê das coisas. O amor está lá e tem uma racionalidade própria que não requer comprovações empíricas nem científicas pra provar que existe. É algo absoluto que sobrevive às intempéries do mundo, entretanto, não prescinde da existência de um coração.

Ao vivenciarmos o amor, somos regidos por uma vontade superior de dar, mesmo que necessitemos receber algo quando estamos em um relacionamento a dois. É sabido que o amor incondicional ainda é algo praticamente inalcançável para nós seres humanos, que precisamos de reciprocidade quanto à aceitação pelos nossos eleitos. Quando amamos, vivemos em estado de grandeza, isso mesmo, o amor nos eleva! Faz com que nos sintamos grandes, fortes e invencíveis. E uma das formas de compensar o universo por esse estado de graça é oferecer.

Um presente valioso que pode ser ofertado aqueles que amamos, e que pode fazer a diferença para quem o recebe, é ressaltar a beleza do outro indivíduo como pessoa, bem como fortalecer ainda mais a sua percepção positiva sobre si mesmo. Às vezes, tudo começa com um deslumbramento à primeira vista que vai se confirmando com o passar do tempo, em outras, surge calmamente como um acontecimento comum. Mas na medida em que se aprofunda o conhecimento mútuo, com naturalidade, cumplicidade e muito carinho, o resultado é o mesmo: o outro passa a ser a força motriz que nos impele a ser feliz.

Existem muitas razões que nos levam a manifestar o amor por outra pessoa. O fato de querer mostrar a relevância que o outro tem na nossa vida, as transformações e conquistas que fomos capazes de concretizar juntos, ou até o fato de acreditarmos não ter algo de maior valor a oferecer. Como se amar fosse algo imperceptível aos olhos! Há também o reconhecimento daqueles que se sentem abençoados por tudo o que recebem, e imperativamente buscam compartilhar os ganhos com os outros. Confesso que uma das coisas mais marcantes resultantes do ato de amar é ter como alimento da alma a satisfação em ajudar as pessoas. Não consigo sentir que estou bem sozinha. Não consigo olhar ao redor e fingir que não vejo as oportunidades de estender a mão, de dar um abraço, de dizer uma palavra de conforto, de fazer alguém se sentir bem e feliz.

Quando o relacionamento vai crescendo pela soma de dois, surge uma felicidade em fazer bem à outra pessoa, em ajudá-la a olhar a vida por outras perspectivas, assim como me sinto beneficiada. Sinto o ser que amo como um presente. Alguém tão especial que apareceu na minha vida para me ajudar a ampliar a minha capacidade de interagir com o mundo e com as pessoas. De ter um sentimento forte, por admirar uma pessoa pelo que ela é. Sem ter garantia de nada, nem certezas. Sentir tudo sem compromisso, sem ter uma troca obrigatória. Sentir porque me faz bem, sem ter que majorar os lucros de uma troca medida e pensada. É como se isso fortalecesse a minha fé nas pessoas. Creio no aprendizado a dois e na grandiosidade de outra pessoa que comete erros igualmente a todo mundo, mas mesmo assim, não deixa de ser especial. Com os olhos do amor, os defeitos são amenizados e as diferenças são excentricidades que dão ao outro um toque de charme.

Enxergamos a pessoa amada como um ser maravilhoso. No meu caso, um homem carinhoso e sensível que foge aos padrões. Vemos o outro como alguém que tem uma estrelinha na testa que torna o seu sorriso algo encantador. E o abraço, que parece envolver a outra pessoa por completo, transmitindo uma energia forte que acalma e acalenta. Não há como não ficar refém; ficamos viciados... Em razão disso, quando ocorre o encontro, emerge uma vontade de tomar o outro em um gole só, de se esbaldar, de ficar entorpecido pelo cheiro e apreciar o gosto do beijo que é único. Torna-se uma necessidade insaciável. É assim, quando estamos sob os efeitos do amor romântico.

Passamos a apreciar a combinação de características tão variadas percebidas no nosso amor. Pode ser inteligente e tratar as coisas sérias com responsabilidade, mas ressaltamos o bom humor e a graça. Visualizamos que é seguro em suas convicções, mas preferimos ver o lado maleável e aberto à opinião alheia, o fato de ser flexível a mudanças de rumo repentinas. Mesmo que tenha um lado introvertido e contido, exaltamos sua capacidade de interagir com o mundo de fora. Mesmo que não fale muito a respeito de suas intimidades sem ser provocado, percebemos que sabe dizer a coisa certa, no momento certo. Pode até ter a língua afiada pra dar respostas desafiadoras, contudo, deve ter a doçura e o carinho necessários quando está cuidando de alguém. Admiro quem trata as pessoas do seu círculo próximo com apelidos carinhosos e com muita consideração, mesmo aquelas que já tomaram outros rumos. Para mim, o mais importante é saber valorizar as pessoas.

Em um relacionamento amoroso, a química deve ser forte, mas a relação de amizade tem sua importância. Deverá dar as bases para a cumplicidade. Assim fica mais fácil confiar e falar sobre coisas que nunca imaginamos contar a alguém. Dividir as dificuldades e compartilhar as alegrias do cotidiano. Deverá inspirar confiança e instigar a busca por novos horizontes. Além disso, facilita o ato de impor limites sem perder a compostura, saber receber e fazer pedidos de desculpa, cuidar do outro. Para tanto, a conversa deverá fluir sem esforço. E mesmo que um dos dois tenha maior propensão a falar, deverá despertar o interesse sobre as coisas que você faz. Sua vida, seu trabalho, seus sonhos...

Todos que convivem comigo percebem que eu mergulho de cabeça na vida. Mas tem que ser em situações em que eu me identifique, por razões que valham qualquer sacrifício. Devo ressaltar que todas as pessoas que considero especiais merecem meu carinho e respeito. O que elas despertam no meu coração não tem preço. Posso não compreender a razão de todas as coisas de ser de tudo. Mas posso afirmar categoricamente que não chego tão longe se a aventura não valer a pena. Não estou retratando uma relação de trocas minuciosamente calculadas e sim a importância que sentimentos poderosos como o amor têm de potencializar o que temos de melhor. Quanto mais amamos e nos sentimos amados, ampliamos a nossa capacidade de externar o nosso melhor lado. A sombra continua a fazer parte da nossa natureza, entretanto, o amor é investido de um poder benéfico de despertar em nós a necessidade de sermos melhores do que fomos ontem e há anos atrás. É por isso e por outras particularidades, que acredito na relação a dois como a melhor forma de se desenvolver como pessoa.

Então, deixo uma mensagem aqueles que amo. Quando se sentirem inseguros ou tiverem dúvidas sobre sua essência, lembrem de mim. Sei que isso pode não significar muito, sou apenas uma pessoa dentre muitas outras com as quais vocês convivem. Mas pensem apenas na importância da breve passagem de cada um de vocês, na vida dessa única pessoa. Se mesmo em tão pouco tempo foram capazes de me proporcionar tantas descobertas, de cuidar de mim em momentos difíceis, de despertar sentimentos de tirar o chão, imaginem o que podem fazer por aqueles com quem deverão conviver por muito tempo! Portanto, não subestimem sua capacidade de alegrar e de transformar a vida das pessoas, inclusive a de vocês próprios.

Obrigada a todos que amo por me proporcionarem a chance de sentir algo sublime, de me transformar como pessoa, de me descobrir como um ser do tamanho dos meus sonhos. Agradeço por sentir saudades de nossos momentos juntos, uma vez que apenas sentimos falta de algo que nos é caro. Descobri que as pessoas só devem estar ao nosso lado por vontade própria e por buscarem caminhos convergentes aos nossos. Respeito às escolhas de cada um. Então, apareçam quando der vontade, mesmo que seja de surpresa. Estarei sempre aqui, de portas abertas e com um abraço aconchegante para recepcioná-los no dia da chegada. Que cada um de vocês receba da vida todo o bem que me fizeram. As alegrias, os votos de felicidade e, principalmente que possam ter a segurança de que podem contar comigo naquilo que me for possível realizar no caminho do amor.

Tema de destaque 13 - Paciência

Recentemente visitei o museu de Vincent Willem van Gogh, em Amsterdã, Holanda. E depois de conhecer detalhes da vida e do sofrimento mental desse pintor, cresceu ainda mais a minha admiração por ele. Acho que tenho uma quedinha por pessoas problemáticas; elas têm uma inquietude que me atrai. Creio que é a percepção de uma insatisfação que inspira a busca por mudanças. Dessa forma, passei a visualizar o artista taxado de doido, além de suas obras fortemente influenciadas pelo impressionismo. Direcionei o meu olhar ao ser humano falível e nostálgico como todos nós o somos em algum momento da vida. E até doidos também, quando decidimos dar viradas radicais nos rumos do futuro, ao quebrar tabus e antigas tradições familiares, quando descordamos abertamente do posicionamento da grande maioria que nos rodeia, ou simplesmente, quando decidimos parar e não dar mais nenhum passo sem o consentimento formal da nossa consciência perturbada.

Algo que também me causou grande comoção nessa pequena jornada interna na essência de outra pessoa foi a sua relação de amizade tão forte e profunda com o irmão mais novo. Era uma ligação tão intensa, que Théo morreu cerca de seis meses depois de o pintor se suicidar com um tiro no peito. Brigavam e descordavam entre si com relação a pontos de vista paradoxais, mas estavam sempre juntos e unidos por um bem querer maior que as dificuldades que enfrentavam. Tudo bem que houve um motivo que perpassou a sua vontade própria; uma enfermidade. Mas às vezes, nossa alma tem a capacidade de atrair inconscientemente, os nossos desejos mais salutares e os obscuros também. Pedis e obterás... Não é assim a lei que governa o universo?

Durante todo o percurso no museu, que dispõe as obras em ordem cronológica, destacando a evolução dos dotes artísticos de van Gogh, é possível se deliciar com trechos de suas cartas ao irmão, os dizeres mais íntimos desse artista inconstante e atazanado pelos ruídos da sua própria mente. Nos dizeres, são narrados os momentos mais decisivos e importantes da sua vida. Conta quando largou o ramo da administração e se tornou pastor, seguindo o modelo do pai; quando entrou em crise existencial e resolveu tornar-se artista; e até quando se viu encurralado pela vontade de habitar outros mundos, por não mais suportar as dores do corpo e da alma. Sentia que não pertencia mais àquela realidade.

Lembro muito bem da época em que entrei em crise com a engenharia. Achava tudo muito técnico, mecânico e frio. A minha natureza sentimental, utópica e ideológica não me permitia criar um vínculo forte com o caminho que eu havia escolhido. Pensei em diversas opções de reconstruir meu campo profissional e, ao acender das luzes, pensei em me graduar em psicologia. Sempre amei as pessoas e estudar as diferentes manifestações da natureza humana. Era perfeito, mas antes de me aventurar em um vestibular iniciei uma especialização em Psicologia Junguiana. A experiência foi muito proveitosa e me trouxe vários esclarecimentos sobre a minha vida, uma vez que nessa época eu estava fazendo terapia.

Contudo, nada acontece por acaso e, na mesma época, engajei-me em um trabalho que combinava os conhecimentos sobre engenharia, meio ambiente, saneamento e urbanização de favelas. Que felicidade. Essa foi uma das melhores experiências que já tive na vida. Retomei o ânimo e consegui o que queria: introduzir humanismo ao meu trabalho; era o ingrediente que faltava. Atualmente não me vejo fazendo outra coisa, senão trabalhando com populações de interesse social. Também percebi o quanto é importante a existência de profissionais das ciências exatas que usem, além da mente, o coração nas suas atividades mais corriqueiras.

Mas voltando a van Gogh, quando menos esperamos, acabamos imersos no mundo de outra pessoa que em alguns aspectos retrata a nossa história, os medos, as inseguranças e até os arroubos de autoconfiança que surgem com os novos sonhos e paixões. Percebemos todos os seus conflitos, angústias, o sentimento de abandono pela vida por não conseguir concretizar seus sonhos. E depois de poucos instantes de reflexão, é possível concluir que a normalidade se expressa por meio de um comportamento irregular e inconstante. Ou seja, a normalidade não tem nada de normal! É inconstante e às vezes inalcançável. E ainda bem que a vida flui dessa forma, porque é a contradição entre a sensação de saciedade momentânea do espaço preenchido e da ausência do vazio, que movimenta a nossa vontade de buscar construir algo e de nos transformarmos em tudo aquilo que desejamos e acreditamos ser capazes de alcançar.

Quantos de nós já vivemos algo parecido com o que aconteceu ao pintor? Mesmo que a vontade de abandonar a vida não tenha se constituído em uma opção concreta, quantas vezes já desejamos sumir e começar tudo sem passado, sem um legado que obrigatoriamente nos vinculasse a um estado de ser? Fugir, sair sem rumo, esquecer o que passou e ter coragem para começar tudo novamente. Não é preciso ir tão longe, atravessar um oceano, visitar um país onde se fala outra língua para descobrir a resposta. Somos gente em qualquer parte do mundo. É claro que as peculiaridades culturais, as mudanças de valores em tempo e espaço, e principalmente, a natureza e a história de vida de cada um, influenciam significativamente os rumos e os humores de qualquer ser humano.

O que pude perceber, olhando para mim mesma e especulando sobre as minhas próprias inquietações, é que há uma similaridade comportamental entre diferentes pessoas nos momentos de aflição. Retrair-se, permitir-se sofrer, chorar, ficar descrente, se agarrar a alguém, arrumar-se na posição fetal... Percebe-se então, dois grupos predominantes, com algumas interseções, é claro: os que querem sobreviver e seguir adiante e aqueles que não enxergam a diferença entre estar vivo ou não. Apesar de todas as minhas lamentações cíclicas, creio que minha natureza se adéqua mais ao primeiro tipo. Isso, não quer dizer que não me veja, em algumas situações, com a postura de quem traz consigo a sensação de um cansaço eterno. Por outro lado, enxergo cada dia como uma possibilidade de fazer grandes mudanças, por meio de pequenos gestos de amor e carinho para comigo e com o próximo. É uma questão de treino e aperfeiçoamento com o tempo. É colocar-se na posição de um aprendiz apaixonado.

Disciplina, força de vontade, fé em si mesmo e um pouquinho de paciência são ingredientes indispensáveis a qualquer um que queira transpor barreiras e superar limites. Não falo do autocontrole nem do orgulho imbuído do convencimento que emerge da vaidade. Ressalto apenas a segurança desperta pela crença no encadeamento orientado dos fatos da vida. Nossos sonhos não têm tamanho definido, não fazendo muita diferença se são pequenos, médios ou grandes. São sonhos e, por essa razão, já são importantes desde a origem. Contudo, para realizá-los, precisamos desenvolver uma responsabilidade consciente, além do mapeamento de nossas potencialidades e fragilidades. Assim, fica mais fácil descobrir em quais aspectos deveremos fazer ajustes e buscar fortalecer ou minimizar. E até ver se dá pra encarar o desafio no momento em que a idéia surge ou se é melhor deixar o tempo passar um pouco e amadurecer como uma forma de treinamento e preparação.

Então, pensei: só mais um pouquinho de paciência... Bastava ter esperado um pouco mais e van Gogh teria realizado em vida o sonho de ter se tornado um grande artista. Sua intenção não era seguir um estilo determinado nem um único tutor. Buscava retratar os sentimentos das pessoas, como ele mesmo afirmou. Nessa tentativa, acabou retratando seus próprios sentimentos, que no fundo, refletem a alma de pessoas inquietas com a monotonia e mediocridade do mundo. Depois dele e com ele, surgiu o Expressionismo. Um movimento cultural que destacava a interiorização da criação artística ao invés das diversas formas de exteriorização. Cada artista projetava uma reflexão individual e subjetiva, sugerindo que a obra de arte seria o reflexo direto do mundo interior do artista expressionista. No ramo da pintura, o Expressionismo foi descrito como uma pintura dramática, subjetiva, que tinha como objetivo expressar sentimentos humanos.

Assim como ele, muitas outras criaturas se perdem por deixarem o medo do embate diário superar a necessidade de assistir ao final do filme, ver o desfecho das coisas. Sei que essa atitude configura um pouco que exige o esforço de proporções infinitas, mas se as inquietudes não forem adestradas e transformadas em tesão pela vida, o trabalho diário, possivelmente se perderá. E restará apenas o cansaço frustrante das sucessivas tentativas inalcançáveis, deixando predominar o sentimento de incompetência e fracasso. Só mais um pouco de paciência e chegaremos lá; um dia todos nós chegaremos.

Encerro esse texto deixando trechos da sábia música de Lenine que inspirou o título da reflexão: Paciência. Pensemos que tudo é uma questão de tempo. Tudo tem sua hora e momento mais apropriado para acontecer. Nem antes nem depois. O importante é estarmos atentos na estação, para quando o trem passar, ingressarmos nele e rumarmos no destino certo. Mesmo com dúvidas, uma vez que elas são inerentes à vida. Os riscos são apenas um detalhe. E só é possível fazer inferências a respeito de suas proporções. Nenhuma previsão é exata; nada está sob a égide do controle absoluto. Mas se pretendemos ser inteiros, devemos estar dispostos a pagar o preço da completude. Sofrer, sorrir, chorar, sentir-se cansado, sorrir novamente. Lutar, viver, desabrochar, crescer e depois transcender na forma de uma borboleta com asas largas e cores cintilantes.



“Mesmo quando tudo pede
Um pouco mais de calma
Até quando o corpo pede
Um pouco mais de alma
A vida não para...

O mundo vai girando
Cada vez mais veloz
A gente espera do mundo
E o mundo espera de nós
Um pouco mais de paciência...”