"Renda-se, como eu me rendi.
Mergulhe no que você não conhece como eu mergulhei.
Não se preocupe em entender, viver ultrapassa qualquer entendimento."

(Clarice Lispector)

O Beijo

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Gustav Klimt (1907)
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quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Tema de destaque 18 - Amor sem preconceitos

Uma forma saudável e construtiva de exercitar a percepção sobre os acontecimentos da vida é olhar o passado com outros olhos, em outro tempo e com outra bagagem. É assim que se faz para analisar períodos históricos e o próprio curso da humanidade. Então, por que não adotar essa prática para ampliar a introspecção acerca do universo particular de cada um de nós? O filme Philadélphia, estrelado por Tom Hanks e lançado em 1993, oferece uma grande oportunidade para o exercício da reflexão acerca do tema preconceito, principalmente com relação à AIDS e ao homossexualismo.

Embora essas duas palavras retratem um contexto da atualidade, e mesmo que a sociedade tenha evoluído significativamente a forma de lidar com elas nos últimos 15 anos, ainda refletem uma tendência ancestral do ser humano de condenar os diferentes, de não querer correr riscos, de julgar condutas alheias segundo suas próprias referências, de desqualificar os supostos transgressores e atirar pedras. A diferença é que nos primórdios as pedras eram de verdade, machucavam fisicamente e até levavam o condenado à morte. Mas agora, também assumem novos formatos e resultam em efeitos mais dolorosos.

Mesmo sabendo que esse comportamento acompanha a natureza humana a perder de vista, é questionável o fato de alguém sentir qualquer tipo de prazer em diminuir o outro ou de aniquilá-lo como pessoa. Não estou falando de inimigo de uma guerra, onde prevalece o lema matar ou morrer. Refiro-me a aquele cidadão comum que compartilha algum espaço físico com um grupo de pessoas ou até um familiar mais distante e em casos mais extremos alguém que concebemos. De que forma esse outro interfere negativamente na vida alheia?

Esse comportamento de perseguição às bruxas deixa no ar a sensação de que essas pessoas acreditam que fizeram a coisa certa ao puxar o tapete de alguém que já vive um eterno conflito interior. É o sentimento de missão cumprida, como se tivesse sido escolhido a dedo para realizar algo indelegável e intransferível; de importância incalculável para o progresso da humanidade. Em alguns casos é como chutar um bicho morto. Talvez, ao atirarem as pedras, essas pessoas devam, erroneamente, exorcizarem seus próprios demônios. Quem sabe a psicologia possa explicar isso, por meio das teorias que falam das projeções do indivíduo nas outras pessoas. Deve ter alguma racionalidade mesmo que irracional capaz de apontar razões para essas tendências.

Algo de destaque no filme foi o preconceito contundente em relação à homossexualidade. Foi mostrado que as pessoas que adquirem a AIDS por razões entendidas como incontroláveis, tal como a transfusão de sangue, são menos hostilizadas e até dignas de condescendência. Coitadinhas, são vítimas de uma fatalidade. E o homo, principalmente o macho gay, buscou o que merecia. Que pensamento medíocre! Não se deve diminuir a decepção que um hemofílico contaminado contra sua vontade possa ter em relação à vida. Mas será que a vida de um indivíduo vale menos que a de outros por não se enquadrar no modelo preconizado por aqueles que se julgam acima do bem e do mal? Os auto-intitulados deuses do universo? Pessoas são pessoas em quaisquer circunstâncias.

É claro que existem situações que causam medo, principalmente aquelas desconhecidas e inesperadas. Mas isso não é argumento suficiente para desqualificar alguém e classificá-lo como um ser inferior, ou até mesmo como uma aberração. E, além disso, ninguém está preparado para tudo, nem deve estar. A vida é da forma que é para sermos testados. Que graça teria se já viéssemos com todas as respostas prontas, sem a necessidade de refletir e de fazer escolhas às cegas?

Quanto aos desvios de caráter onde são enquadrados? Por que não são censurados na mesma medida? Desde sempre, são suportáveis e os autores são considerados menos transgressores. Pais mandam filhos para o exterior com o intuito de esconderem potenciais delinqüentes, sofrem mais pela vergonha da exposição social do que pela percepção dos desvios daqueles pelos quais deveriam ser responsáveis; gente toca fogo em indigente e recebe condescendência da lei; homem estupra mulher e se defende alegando que a outra desejava aquilo, em função de um comportamento e do uso de vestimentas vulgares; dirigir embriagado e comprometer a vida de outras pessoas, devido a uma colisão dolosa; são todos crimes sem castigo... Mas quem define os padrões de enquadramento dos delitos e tomando como base quais critérios? Pergunta difícil de ser respondida. Mas, por outro lado, a reflexão sobre o tema é imprescindível para a garantia da saúde da teia da vida.

Dessa forma, um bom observador se dará conta de que em cada época da história da humanidade existiu um grupo seleto de marginalizados. Apenas se mudava o tema em voga. As bruxas que foram queimadas vivas; as mulheres adúlteras que foram apedrejadas em praça pública e ainda continuam a ser em algumas partes do mundo; os leprosos e tuberculosos escorraçados de suas cidades; os loucos internados nos hospícios; as mulheres histéricas; os classificados como feios e condenados pela ditadura da beleza; além de tantos outros. A ordem é tirar do campo de visão tudo aquilo que incomoda, que fere as leis, que aparenta ser anormal, disforme ou feio.

Mas o que há de tão imperfeito e amoral em se relacionar com alguém do mesmo sexo? Os laços de amor não contam? Será que é mais digno o casamento entre homem e mulher que não se suportam, que não se vêm como cúmplices da vida a dois, que apenas mantêm as aparências para receberem o título de casal modelo? Até que a morte os separe diz o padre. Uma só carne. Então, seguindo essa lógica, os que desejam intimamente a morte, mas que estão acorrentados a esse dogma serão os merecedores da misericórdia divina. Uns são consumidos pela angústia diária e sofrem de descrença crônica. Outros cultivam mágoa e rancor. Alguns buscam vidas paralelas para se aliviarem e encontrarem algo que os conforte e dê forças para enfrentar mais um dia... Essas condutas são mais saudáveis e indicadas segundos as bulas de Deus? Não é em nome Dele que os justiceiros se apegam para crucificar o desvio de natureza?

Então vamos à prática. Um episódio real mudou significativamente a minha postura em relação ao assunto. Posso até dizer que mudou a minha vida. Lamento o fato até hoje. Pela perda de um amigo querido e pelo fato de acreditar que poderia ter sido mais presente e maleável. Falo um ser que se foi e deixou muita saudade. Não suportou as pressões que alguém com suas escolhas tem que encarar e preferiu a morte. Baniu-se por si só. Fugiu para outro lugar, usou outro nome, encheu-se de coragem e pulou do 8º andar de um hotel. Morreu só, com sua identidade desfigurada e vítima do preconceito alheio. Nesse dia, registrou-se a perda de um ser maravilhoso. Profissional competente e de caráter irrepreensível. Só tinha um defeito enorme e imperdoável: era gay.

Já falei que toda generalização é burra e imprecisa, mas nesse caso, sustento até o fim que ela é de fato quase certeira. Supomos que fosse possível instalar em praça pública um detector capaz de aferir a qualidade do ser humano segundo as normas vigentes. A máquina poderia penetrar até os pensamentos mais obscuros, aqueles que se faz questão de esconder e disfarçar. E quem não passasse no teste seria banido para a terra dos insolentes, dos sem direitos, dos não dignos da majestosa sociedade. O aparelho estaria imune a qualquer tentativa de manipulação de resultados. Incorruptível e sem relativismos. A justiça nua e crua. Como é de se imaginar, ninguém passaria no teste ou quase todo mundo seria reprovado. Quem sabe esse não seria um bom recomeço? À primeira vista, pode até ser. Mas a nova maioria de excluídos iria impor suas novas regras levando tudo de volta ao começo. Então, não atire a primeira pedra...

A solução desse tipo de dilema social é muito complexa e sofrida. Mas vigora sobre todas as leis, o irrestrito progresso da alma. A natureza é tão perfeita que até aqueles pobres de espírito têm a sua chance de transcender. Sob essa ótica todos têm lugar ao sol e são dignos de indulgência, condescendência e amor. Pode parecer um posicionamento ingênuo e até infantil para alguém da minha idade. Contudo, crer em algo dessa magnitude fortalece a minha fé no entendimento de que tudo feito com o coração aberto e em busca do auxílio indiscriminado é revertido em prol de uma coletividade maior do que aquela a qual se busca beneficiar. Estamos todos no mesmo barco e enquanto não nos conscientizarmos de que a fragmentação social é o cerne da falência da própria sociedade, continuaremos enfermos e à margem do pior lado de nós mesmos.

terça-feira, 16 de novembro de 2010

É Proibido (por Pablo Neruda)

É proibido chorar sem aprender,

Levantar-se um dia sem saber o que fazer
Ter medo de suas lembranças.

É proibido não rir dos problemas
Não lutar pelo que se quer,
Abandonar tudo por medo,
Não transformar sonhos em realidade.

É proibido não demonstrar amor
Fazer com que alguém pague por tuas dúvidas e mau humor.
É proibido deixar os amigos
Não tentar compreender o que viveram juntos
Chamá-los somente quando necessita deles.

É proibido não ser você mesmo diante das pessoas,
Fingir que elas não te importam,
Ser gentil só para que se lembrem de você,
Esquecer aqueles que gostam de você.

É proibido não fazer as coisas por si mesmo,
Não crer em Deus e fazer seu destino,
Ter medo da vida e de seus compromissos,
Não viver cada dia como se fosse um último suspiro.

É proibido sentir saudades de alguém sem se alegrar,
Esquecer seus olhos, seu sorriso, só porque seus caminhos se desencontraram,
Esquecer seu passado e pagá-lo com seu presente.

É proibido não tentar compreender as pessoas,
Pensar que as vidas deles valem mais que a sua,
Não saber que cada um tem seu caminho e sua sorte.

É proibido não criar sua história,
Deixar de dar graças a Deus por sua vida,
Não ter um momento para quem necessita de você,
Não compreender que o que a vida te dá, também te tira.

É proibido não buscar a felicidade,
Não viver sua vida com uma atitude positiva,
Não pensar que podemos ser melhores,
Não sentir que sem você este mundo não seria igual.

Viver Despenteada (Martha Medeiros)

Hoje aprendi que é preciso deixar que a vida te despenteie, por isso decidi aproveitar a vida com mais intensidade…


O mundo é louco, definitivamente louco…
O que é gostoso engorda. O que é lindo custa caro.
O sol que ilumina o teu rosto enruga.
E o que é realmente bom dessa vida, despenteia…

- Fazer amor, despenteia.
- Rir às gargalhadas, despenteia.
- Viajar, voar, correr, entrar no mar, despenteia.
- Tirar a roupa, despenteia.
- Beijar a pessoa amada, despenteia.
- Brincar, despenteia.
- Cantar até ficar sem ar, despenteia.
- Dançar até duvidar se foi boa idéia colocar aqueles saltos gigantes essa noite, deixa seu cabelo irreconhecível…

Então, como sempre, cada vez que nos vejamos eu vou estar com o cabelo bagunçado…
Mas pode ter certeza que estarei passando pelo momento mais feliz da minha vida.

É a lei da vida: sempre vai estar mais despenteada a mulher que decide ir no primeiro carrinho da montanha russa, que aquela que decide não subir
Pode ser que me sinta tentada a ser uma mulher impecável, toda arrumada por dentro e por fora.
O aviso de páginas amarelas deste mundo exige boa presença: arrume o cabelo, coloque, tire, compre, corra, emagreça, coma coisas saudáveis, caminhe direito, fique seria…
E talvez deveria seguir as instruções, mas quando vão me dar a ordem de ser feliz?
Por acaso não se dão conta que para ficar bonita eu tenho que me sentir bonita…
A pessoa mais bonita que posso ser!

O único que realmente importa é que ao me olhar no espelho, veja a mulher que devo ser.
Por isso, minha recomendação a todas as mulheres: se entregue, coma coisas gostosas, beije, abrace, dance, apaixone-se, relaxe, viaje, pule, durma tarde, acorde cedo, corra, voe, cante, arrume-se para ficar linda, arrume-se para ficar confortável, admire a paisagem, aproveite, e acima de tudo, deixa a vida te despentear!!!

O pior que pode acontecer é que, rindo frente ao espelho, você precise se pentear de novo...