“Há escolas que são gaiolas e há escolas que são asas.
Escolas que são gaiolas existem para que os pássaros desaprendam a arte do vôo. Pássaros engaiolados são pássaros sob controle. Engaiolados, o seu dono pode levá-los para onde quiser. Pássaros engaiolados sempre têm um dono. Deixaram de ser pássaros. Porque a essência dos pássaros é o vôo.
Escolas que são asas não amam pássaros engaiolados. O que elas amam são pássaros em vôo. Existem para dar aos pássaros coragem para voar. Ensinar o vôo, isso elas não podem fazer, porque o vôo já nasce dentro dos pássaros. O vôo não pode ser ensinado. Só pode ser encorajado.”
"A alma é uma borboleta...
há um instante em que uma voz nos diz
que chegou o momento de uma grande metamorfose..."
“Ao final de nossas longas andanças, chegamos finalmente ao lugar.
E o vemos então pela primeira vez.
Para isso caminhamos a vida inteira: para chegar ao lugar de onde partimos.
E, quando chegamos, é surpresa.
É como se nunca o tivéssemos visto.
Agora, ao final de nossas andanças, nossos olhos são outros, olhos de velhice, de saudade.”
“Compreendi, então, que a vida não é uma sonata que, para realizar a sua beleza, tem de ser tocada até o fim.
Dei-me conta, ao contrário, de que a vida é um álbum de mini-sonatas.
Cada momento de beleza vivido e amado por efêmero que seja, é uma experiência completa que está destinada à eternidade.
Um único momento de beleza e amor justifica a vida inteira.”
“O segredo do amor é a androgenia: somos todos, homens e mulheres, masculinos e femininos ao mesmo tempo. É preciso saber ouvir. Acolher. Deixar que o outro entre dentro da gente. Ouvir em silêncio. Sem expulsá-lo por meio de argumentos e contra-razões. Nada mais fatal contra o amor que a resposta rápida. Alfange que decapita. Há pessoas muito velhas cujos ouvidos ainda são virginais: nunca foram penetrados. E é preciso saber falar. Há certas falas que são um estupro. Somente sabem falar os que sabem fazer silêncio e ouvir. E, sobretudo, os que se dedicam à difícil arte de adivinhar: adivinhar os mundos adormecidos que habitam os vazios do outro.”
“Tanto os meus fracassos quanto as minhas vitórias duraram pouco.
Não há nenhuma vitória profissional ou amorosa que garanta que a vida finalmente se arranjou e nenhuma derrota que seja a condenação final.
As vitórias se desfazem como castelos atingidos pelas ondas, e as derrotas se transformam em momentos que prenunciam um começo novo. Enquanto a morte não nos tocar, pois só ela é definitiva, a sabedoria nos diz que vivemos sempre à mercê do imprevisível dos acidentes.
Se é bom ou se é mau, só o futuro dirá.”
“A saudade é a nossa alma dizendo para onde ela quer voltar.”
Para todos aqueles que acham impossível entender a alma feminina, segue um desafio: um ano para conhecer uma mulher! Serão postados pensamentos, descrições de personalidades, crônicas, poesias, análises e analogias sobre o que fomos, o presente e o que queremos ser. Espero com isso, pelo olhar do meu anonimato, esclarecer inclusive para mim mesma, os segredos da mente e da alma feminina.
sábado, 8 de janeiro de 2011
sexta-feira, 7 de janeiro de 2011
Tema de destaque 22 - Profissão Comentarista
Atualmente, existe especialista para tudo neste mundo. Hoje, além de nos dizermos como pessoa, quando descrevemos quem somos fazemos o detalhamento da nossa formação acadêmica ou referência à profissão. Uma especialidade para dizer quem somos e uma sub-especialidade parar fazer o diferencial. Com essa multiplicação de facetas da rotulagem, surgem juntamente as novas funções. Entre elas, a função comentarista. Tem comentarista para todas as coisas: esportes, moda, etiqueta, política, economia, sexo, meio ambiente. É uma lista infindável que cresce na mesma velocidade com que surgem os novos assuntos e modismos na mídia.
Contudo, há um comentarista negligenciado e que não consta nessa lista. É o cronista. Por que essa associação? Muito simples de responder. O cronista é aquela pessoa que comenta a vida como ela é. Não é especialista em nada, além da sua forma peculiar de olhar a vida e traduzi-la em palavras. Mas sabe de tudo um pouco e não tem reservas em mostrar o que pensa. Sua profissão se assemelha às práticas dos antigos filósofos.
Porém, uma diferença sutil e certeira distingue um do outro. O cronista fala para todos e não apenas para o público seleto dos teóricos eruditos e super esclarecidos. Além disso, não busca deixar um legado ideológico que seja capaz de descrever todas as pessoas em uma única teoria universal. Ele sabe que os termos enquadramento e pessoas não são compatíveis. Sua maior facilidade é comentar os fatos, quer se refiram aos anseios alheios quer estejam relacionados à sua própria individualidade.
Fica criada a profissão comentarista da vida. As regras básicas de seu exercício envolvem um toque de humor aqui, uma pitada de ironia ali... Um texto dramático, outro leve e cristalino. E assim, são compartilhadas reflexões expressadas por uma linguagem simples e ao mesmo tempo profunda sobre variados temas da realidade humana.
Deixam sua marca registrada: um quê de intimidade e acabam por completo com o tom professoral de quem acredita ser capaz de ter receitas prontas e eficazes para todos os males. Amenizam a sensação de tristeza que às vezes sentimos por vivenciarmos experiências ruins; a sensação de ter falhado de forma recorrente em algo que já não é novidade e que deveríamos superar; a sensação de nos sentirmos inferiores e falíveis quando olhamos ao redor e aparentemente enxergamos todos os outros bem encaixados, no seu devido lugar, menos nós.
Deverão estar aptos a conquistar a atenção do leitor pelo fato de instigarem sua auto-reflexão de maneira amena, sem rodeios, aguçando a sensibilidade dos sentidos. Em alguns casos conseguem despertar a verdadeira vontade de mudar e de perseguir sonhos. Em outros, se justificam apenas por despertarem a percepção de que a linguagem usada pelo mundo para escrever suas histórias pode ser decifrada, apreendida e internalizada.
Tudo que faz parte do cotidiano é material de pesquisa e inspira uma contextualização filosófica a respeito da vivência diária de cada ser. Basta olhar uma cena corriqueira na mesa do lado, assistir ao noticiário de um fato sem muita importância ou apenas acordar com a sensação de precisa dizer algo.
Vida, morte, maternidade, sexo, casamento, relacionamentos, preconceito e muitos outros, são temas recorrentemente explorados. O interessante é que cada novo texto imprime um olhar diferente, outro ponto de vista recheado das impressões de outra mente, que resulta de uma história em particular. A mágica desses profissionais é mostrar a seus leitores que eles não estão sozinhos numa multidão de perfeitinhos. Que não são os únicos a desmoronarem ou ficarem emocionados “apenas” porque se sentiram traídos, abandonados, rejeitados, felizes, realizados...
O cronista, ao contrário dos humanistas pragmáticos, não está atrás de respostas que sirvam para todos. Essa tentativa é uma falácia. Confesso que eu mesma já pensei que seria possível identificar algum tipo de lei universal que influenciasse a todos, concomitantemente. E que o resultado das nossas respostas aos estímulos recebidos deveriam ter uma origem similar. Pensei em ser minha própria cobaia, tal como tantas figuras usaram suas próprias impressões para descrever os efeitos psicotrópicos de entorpecentes ou caracterizar tipos psicológicos. Como estava enganada! Bastaram mais alguns anos de pouca experiência e percebi que, em se tratando de pessoas, nada é exatamente igual nem totalmente convergente. O padrão vigente é a individualidade.
É claro que alguns fatos imprimem sentimentos parecidos e que há traços de similaridades a até certo ponto. Por outro lado, a combinação das experiências, marcas e cicatrizes que cada um traz em si são como uma impressão digital. Embora existam os clichês todo fim tem um começo ou nada dura para sempre, sabemos que nenhum desfecho é igual e que as razões para se começar uma nova empreitada são as mais diversas possíveis. Cada qual tem seu gosto, sua essência, suas tendências que tornam sua alma única e insubstituível. Por isso, há tantos estilos e linguagens em voga para se falar uma mesma língua, para se contar um mesmo fato ou simplesmente para se dizer sinto muito.
Acredito que um dos segredos daqueles que têm intimidade com as palavras e impressões sobre a realidade, é a habilidade em enxergar os outros como eles são e saber explicar a essência daqueles com quem desfrutam de um convívio mais próximo. Detêm a vontade exagerada de sentir o outro e de se emocionar com a vida para depois dar suas próprias impressões dos fatos. Um cronista gosta de ver os acontecimentos com seus próprios olhos e descreve os eventos com sua sensibilidade exacerbada acerca da arte de sentir. Emerge do seu peito uma curiosidade faminta de descobrir o que está escrito nas entrelinhas. Raramente se abstém de proferir sua opinião, e quando fica em silêncio, sabe que no fundo, é a melhor coisa a fazer.
Então experimente um exercício simples, mas revelador. Olhe ao redor e tente visualizar uma cena que lhe impute algum tipo de sentimento. Exercite a criatividade e imagine os fatos e as implicações implícitas de todo o contexto. Tende descrever sua percepção e, se chegar a esse ponto da brincadeira, irá perceber que a cada linha escrita estarão incrustadas suas vivências pessoais. Em tudo que fazemos acabamos deixando uma pista do que somos. Um rastro do nosso passado e as expectativas que temos sobre o futuro.
Ao refletirmos sobre um episódio pessoal estamos exercitando a nossa capacidade de refletir e comentar sobre a vida. Não importa se a linguagem que usaremos é rebuscada ou simplória; por metáforas ou no discurso direto. Tudo é relativo, principalmente o tom do desfecho. O único alerta que faço é que, cada vez menos, as pessoas se sentem à vontade para encarar a realidade. Isso sim é a condição essencial para qualquer um que queira se atrever a interagir com o mundo. As recorrentes tentativas de fuga são também entorpecentes da alma que, com o tempo, minam todo o nosso potencial de ver, sentir, se emocionar e se fazer mais vivo.
quarta-feira, 5 de janeiro de 2011
Perto da família e do coração (por Andréa Naritza)
Estou de férias, perto da minha família e na minha cidade natal. Sempre que venho aqui, faço um pequeno ritual: visitar meus avós, olhar fotos, matar a saudade de sabores que só encontro aqui. Depois de um tempo, mesmo refazendo o ritual de sempre, observei que a minha percepção sobre as coisas e as pessoas foi modificando. Não foi apenas o meu amadurecimento que afetou as pespectivas, mas os fatos também mudaram.
É incrível como os hábitos acabam se tornando tradição quando repetidos sucessivamente. Mas quando a realidade muda e não podemos mais perpetuar o que se fez desde sempre, como devemos agir? Antes, existia uma regra, mesmo que tácita, que nos dava um rumo. E quando as circunstâncias mudam a ponto de nos obrigar a traçar as novas regras, como devemos fazer?
Há seis meses, perdi meu avô materno e sinto que os últimos dias também se aproximam para a minha avó. Restará apenas a minha avó paterna, já que o meu avô paterno já faleceu há muito tempo. E esse é o ponto. Percebo agora a importância dessas figuras para a perpetuação do ato de agregar a família. Desde que me entendo por gente, fazíamos a mesma trajetória para visitá-los no Natal e no Ano Novo. Vejo que, com a partida deles, a congregação familiar já não é a mesma.
Não estou aqui lamentando a partida de pessoas idosas que já cumpriram com a sua missão neste mundo. Só ressalto que a família à moda antiga conferia um pouco mais de união. Pode ser que a nostalgia tenha me invadido agora, mas sinto falta daqueles encontros calorosos e barulhentos, com todo mundo junto, na ceia ou apenas confraternizando os últimos momentos do ano. Visitar os avós era o que todo mundo pensava que seria o propósito do encontro. Contudo, imagino que todos nós sabíamos que aquela energia contagiante da família reunida era o que emocionava de fato.
Então, tenho a missão de continuar a cultivar esses encontros, mesmo que não sejam como antigamente. Afinal, tudo tem seu tempo. O que importa é a satisfação de rever as caras conhecidas e desejar feliz natal e feliz ano novo do fundo do coração, desejando verdadeiramente que essas pessoas possam desfrutar de momentos melhores. Não apenas por serem nossos familiares, mas principalmente por serem pessoas como nós que sempre buscam algo positivo da vida.
E que não seja preciso exercitar o afago apenas aos familiares. No percorrer do caminho surgem pessoas tão especiais que nos encantam e alegram os nossos dias, independentemente dos laços de sangue. Somos a família universal, sem divisão de guetos. Somos aqueles capazes de transformar o mundo por meio de pequenos atos de gentileza e união.
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