"Renda-se, como eu me rendi.
Mergulhe no que você não conhece como eu mergulhei.
Não se preocupe em entender, viver ultrapassa qualquer entendimento."

(Clarice Lispector)

O Beijo

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Gustav Klimt (1907)
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segunda-feira, 11 de julho de 2011

Tema de destaque 29 - Mente e alma feminina

Existem várias maneiras de se perceber uma mulher. Talvez, as mais difundidas sejam a de santa mãe e a de Amélia. Parecem ser as duas que mais evidenciam as características de santidade e acolhimento ao extremo, tanto destacadas como características do sexo feminino. As duas mostram o que historicamente se esperava do feminino: paciência e submissão.

Não podemos entender essa forma de pensar com a mente impregnada de maldade e preconceito. Também vale a pena experimentar a reflexão de como a imagem da mulher era compreendida pelos homens e por ela mesma. Antes mesmo de se consolidar uma identidade própria, como se vê na atualidade, já existiam diversas formas de expressão, representação e entendimento do feminino pelas próprias mulheres de cada época.

Mas quando se fala em mundo moderno e globalizado é possível dizer que até a imagem de mulher santa e dona Amélia não é mais a mesma. Traçando um perfil extremo e completamente contrário a essas figuras dos primórdios, surgem as mulheres de aço do século XXI. São as executivas que atuam com mão de ferro. Perfeccionistas, não casadas em sua maioria, não mães e famigeradas por se afirmarem no trabalho. São estigmatizadas por supostamente carregam uma pedra no coração.

Pensando de outra forma, sugiro que a melhor maneira de entender uma pessoa, qualquer que seja o sexo, é abandonando os estigmas. Deixemos de lado os conceitos impregnados de feminismo ou do machismo eterno e abramos nossas cabeças para compreender a mente das fêmeas que vivem inteiramente sob a ação de hormônios mil. Isso sim é um fator que merece um entendimento mais profundo.

Em cada uma de nós há um pouco de louca e uma pitada de santa. Vivemos uma batalha constante com nossos altos e baixos, com a nossa carência de afago, falta de proteção e necessidade de reconhecimento dos nossos potenciais.

Vivemos em ciclos constantes e em fases que nunca se acabam, acima de tudo, sob as influências de substâncias que nem sabemos o nome. E é nesse mosaico formado por várias faces e por diferentes eus que nos revelamos ao mundo.

Quando assumimos o papel de amante, desejamos ser a mais quente e aquela capaz de saciar todos os desejos do nosso objeto de amor. Mas por outro lado, brigamos com as culpas que nossas ancestrais gravaram nas nossas memórias. Devemos ser sensuais sem vulgaridade, dar prazer sem ser puta, insinuar de forma recatada.

Ao nos tornarmos mães, temos a missão de zelar pelas nossas crias e de estarmos dispostas a lutar como uma leoa, com unhas e dentes. Devemos saber alimentar, dar colo, educar e criar nossos filhos para a vida. Mesmo sabendo que eles saíram do nosso ventre, temos de nos convencer de que eles não nos pertencem. Tudo isso com muita calma, paciência e devoção.

A dona de casa deve prezar pela boa alimentação da família e ter uma casa acolhedora que minimamente retrate o que chamamos de lar. Deve ter respeito com aqueles que lhe prestam serviços, estabelecer as rotinas básicas da família e fazê-las funcionar. A rainha do lar deve rogar pela paz familiar e além de tudo ser uma mulher de verdade, prestando atenção em todos os detalhes para que tudo esteja em seu devido lugar.

No trabalho, a mulher profissional tem suas capacidades questionadas diariamente, mesmo que de forma implícita. Em alguns casos são tratadas com rivalidade simplesmente por serem extremamente dedicadas e competentes. Quando insistem em questões polêmicas, podem até ser alvo de preconceito. No fundo, apenas querem conciliar a alegria de ter o dever cumprido e poder ir pra casa desfrutar do ambiente familiar, quando ele existir.

Um dos papéis mais difíceis vivenciados pela mulher é nos relacionamos a dois. Além das dificuldades de entendimento da nossa própria natureza, precisamos desenvolver a habilidade de conhecer o outro, de lidar com sua forma de percepção do mundo, de saber negociar o que pode ser deixado de lado e o que é indispensável para o equilíbrio da relação.

E agora a parte mais complicada de todas: incorporar os diversos papéis e parir a camaleoa que habita o íntimo de cada uma de nós. Sem falar em todas essas regras e ensinamentos para uma vida saudável e feliz, ainda tem a influência hormonal que está impregnada na nossa própria definição. Uma mulher de fases, complicada e perfeitinha... É assim que nos somos.

Devido a tantas influências, somos uma metamorfose ambulante. Partimos de um extremo a outro e, em questão de segundos, escondemos o halo de santa e sacamos as garrinhas de bicho. Mas também falamos e pensamos em coisas doces e ternas. O nosso eterno romantismo nos despe das farsas das supermulheres. Somos frágeis e indefesas quando o assunto é amor e alimentamos sonhos infantis sobre a forma ideal de amar.

O que se passa na mente de uma mulher depende principalmente da fase em que ela está vivendo e é claro, da sua própria história de vida. Os traumas nos acompanham até o momento em que escolhemos dar um rumo diferente para as coisas. Mas a essência de uma mulher é algo que marca para toda a vida.

Na grande maioria das vezes em que alguém tenta descrever um ser do sexo feminino usa e abusa de inúmeros adjetivos, mistura defeitos com qualidades e acaba desenhando um ser ímpar, que faz toda a diferença. Ela deixa a sua marca como um perfume que se espalha no ar e deixa o rastro de um cheiro que logo se esvai... E mesmo que todas as faces estejam presentes, uma delas exerce o papel principal.