"Renda-se, como eu me rendi.
Mergulhe no que você não conhece como eu mergulhei.
Não se preocupe em entender, viver ultrapassa qualquer entendimento."

(Clarice Lispector)

O Beijo

O Beijo
Gustav Klimt (1907)
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quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Eu Levo Seu Coração Comigo (por E.E. Commungs)

















Eu levo seu coração comigo
(eu o levo no meu coração)
Eu nunca estou sem ele
(onde quer que eu vá você irá, minha querida;
e o que é feito só por mim é seu feito, minha amada)
Não temo o destino
(pois você é meu destino, meu encanto)
Não quero o mundo
(pela beleza de você ser meu mundo, minha verdade)
E você é tudo o que a lua sempre representou
E tudo que um sol irá louvar será você
Eis o maior segredo que ninguém conhece
(eis a raiz da raiz e o broto do broto
e o céu do céu de uma árvore chamada vida;
que cresce além do que a alma sonharia ou a mente poderia esconder)
E este é o milagre que mantém as estrelas afastadas
Eu levo seu coração (eu o levo no meu coração)

Pequenos Gestos (autor desconhecido)

É curioso observar como a vida nos oferece resposta aos mais variados questionamentos do cotidiano...
Vejamos:
A mais longa caminhada só é possível passo a passo...
O mais belo livro do mundo foi escrito letra por letra...
Os milênios se sucedem, segundo a segundo...
As mais violentas cachoeiras se formam de pequenas fontes...
A imponência do pinheiro e a beleza do Ipê começaram ambas na simplicidade das sementes...
Não fosse a gota e não haveria chuvas...
O mais singelo ninho se fez de pequenos gravetos e a mais bela construção não se teria efetuado senão a partir do primeiro tijolo...
As imensas dunas se compõem de minúsculos grãos de areia...
Como já refere o adágio popular, nos menores frascos se guardam as melhores fragrâncias...
É quase incrível imaginar que apenas sete notas musicais tenham dado vida à "Ave Maria", de Bach, e à "Aleluia", de Hendel...
O brilhantismo de Einstein e a ternura de Tereza de Calcutá tiveram que estagiar no período fetal e nem mesmo Jesus, expressão maior de Amor, dispensou a fragilidade do berço...
... Assim também o mundo de paz, de harmonia e de amor com que tanto sonhamos só será construído a partir de pequenos gestos de compreensão, solidariedade, respeito, ternura, fraternidade, benevolência, indulgência e perdão, dia a dia...
Ninguém pode mudar o mundo, mas podemos mudar uma pequena parcela dele: esta parcela que chamamos de "Eu".
Não é fácil nem rápido...
Mas vale a pena tentar!

Tema de destaque 10 - O Meu Encontro

Sabe aqueles momentos da vida em que tudo está aparentemente redondo e paira sobre nossas cabeças uma calmaria aparente, remetendo à sensação do conforto do descanso eterno??? Quando se sentir assim, corra, o mais rápido que conseguir. Ou não. Pare e espere calmamente o inevitável... Algumas pessoas diriam: relaxa e goza. Provavelmente, é em tempos como esse que estamos prestes a vivenciar um ponto de inflexão na curva do crescimento transcendente. Mudará de uma tendência linear, com discreta inclinação, para a dispersão de vários pontos aglutinados em torno de uma forma indefinida, seguindo um comportamento exponencial. Seria tão fácil se a linguagem do comportamento humano pudesse ser simplificada ao nível da simbologia matemática.

Diria que as aparências sempre enganam, mas como toda unanimidade é burra e imperfeita, vamos arredondar para 99,9%. Enquanto tudo estava estabilizado por fora, um vulcão, silenciosamente entrava em erupção. As bases tremiam, o chão se dissipava em uma fenda abissal, enquanto a larva quente espirrava para todas as direções. Foi uma verdadeira explosão que trouxe consigo um desconforto imediato pela perda do pseudo controle da situação. De repente, o mundo girava ao contrário, as palavras perdiam o significado e todo aprendizado acumulado não dava conta de decifrar os fatos. Tudo tão previsível, mas tão evitado... Probabilidade de ocorrência do evento igual a 100%; risco de ser evitado, aproximadamente zero; formas de manifestação, infinitas.

Quando toda energia aprisionada consegue extrapolar a superfície que intercepta o dentro e o fora, gradativamente, a atividade de extravasar vai-se aquietando. As primeiras respostas ao acontecido tomam a forma de um nome de anjo. Um pouco estranho e paradoxal, mas a dualidade é a verdadeira expressão do ser humano: a persona versus a sombra. Uma não existe sem a outra. Ninguém está completamente certo e, ao mesmo tempo, estamos todos errados. Forjamos personalidades dóceis, que recitam trovas amáveis. O politicamente correto é almejado como propaganda oficial do ser supostamente maravilhoso que se esconde de si mesmo. “Não roubarás; não matarás, não cobiçarás a mulher do próximo”... a cartilha do ser virtuoso já está pronta. Mas e a sombra, para onde ela foi?

Segundo as leis da física, na natureza, nada se perde tudo se transforma. Portanto, toda a energia reprimida e desviada de sua função, um dia busca seu lugar ao sol. E quanto mais tempo demoramos a tomar consciência da nossa totalidade, maior será a força da explosão. A meu ver, esse ser milimetricamente calculado para ser aceito e bem-vindo aos olhos de todos, assemelha-se a um protótipo virtual, construído e arquitetado segundo os preceitos tacitamente balizados pela sociedade. É alguém concebido de fora para dentro e, por isso, não tem a conexão visceral. Por essa razão, sofre de uma esquizofrenia situacional, uma perda momentânea de rumo que pode ser quase permanente. Nesses casos de profunda desconecção da integralidade é inexorável a ocorrência de um choque avassalador, com repercussão de alto impacto para que a crosta externa, já solidificada, seja rompida e ceda espaço ao sentimento verdadeiro.

Talvez, algo que nos remeta à nossa origem mais primitiva seja o mesmo artifício que nos conduza à auto-reconstrução, à aceitação da realidade de fato. O encontro perfeito entre corpos, quem sabe. Dois corações batendo juntos, em ritmo acelerado, no mesmo compasso desesperado, em um instante preciso de confluência total. Naquele exato momento, dois seres sem face e transbordando de alma ao se entregarem por inteiro, deixam de ser corpos vazios e experimentam que juntos podem alcançar as estrelas. Eis então uma forma de instigar o autoconhecimento. Para alguns pode ser um caminho traumático que dá a sensação de espetar como espinhos, mas com certeza será infalível se vivenciada em sua completude.

O outro, quando posto estrategicamente à nossa frente, sob as condições ideais de temperatura pressão e umidade, assume o papel de um espelho que reflete o nosso avesso em carne viva. O reflexo dessa imagem traduz algo além de um autoretrato às avessas. Permite aos olhos a visão do vivo que não tem forma; ao corpo, experimentar a essência daquilo que não se toca; ao coração, aponta o sentido do começo do resto de nossas vidas.

Clarice Lispector - Pensamentos

ISSO É MUITA SABEDORIA

“Quando fazemos tudo para que nos amem e não conseguimos, resta-nos um último recurso: não fazer mais nada. Por isso, digo, quando não obtivermos o amor, o afeto ou a ternura que havíamos solicitado, melhor será desistirmos e procurar mais adiante os sentimentos que nos negaram. Não fazer esforços inúteis, pois o amor nasce, ou não, espontaneamente, mas nunca por força de imposição. Às vezes, é inútil esforçar-se demais, nada se consegue; outras vezes, nada damos e o amor se rende aos nossos pés. Os sentimentos são sempre uma surpresa. Nunca foram uma caridade mendigada, uma compaixão ou um favor concedido. Quase sempre amamos a quem nos ama mal, e desprezamos quem melhor nos quer. Assim, repito, quando tivermos feito tudo para conseguir um amor, e falhado, resta-nos um só caminho... o de mais nada fazer.”

HÁ MOMENTOS
Há momentos na vida em que sentimos tanto a falta de alguém que o que mais queremos é tirar esta pessoa de nossos sonhos e abraçá-la.
Sonhe com aquilo que você quiser.
Seja o que você quer ser, porque você possui apenas uma vida e nela só se tem uma chance de fazer aquilo que se quer.
Tenha felicidade bastante para fazê-la doce.
Dificuldades para fazê-la forte.
Tristeza para fazê-la humana.
E esperança suficiente para fazê-la feliz.
As pessoas mais felizes não têm as melhores coisas.
Elas sabem fazer o melhor das oportunidades que aparecem em seus caminhos.
A felicidade aparece para aqueles que choram.
Para aqueles que se machucam.
Para aqueles que buscam e tentam sempre.
E para aqueles que reconhecem a importância das pessoas que passam por suas vidas.
O futuro mais brilhante é baseado num passado intensamente vivido.
Você só terá sucesso na vida quando perdoar os erros e as decepções do passado.
A vida é curta, mas as emoções que podemos deixar duram uma eternidade.
A vida não é de se brincar porque um belo dia se morre.
Renda-se, como eu me rendi. Mergulhe no que você não conhece como eu mergulhei. Não se preocupe em entender, viver ultrapassa qualquer entendimento.
Passei a vida tentando corrigir os erros que cometi na minha ânsia de acertar.
É difícil perder-se. É tão difícil que provavelmente arrumarei depressa um modo de me achar, mesmo que achar-me seja de novo a mentira de que vivo.

Mas tenho medo do que é novo e tenho medo de viver o que não entendo - quero sempre ter a garantia de pelo menos estar pensando que entendo, não sei me entregar à desorientação.

Saudade é um pouco como fome. Só passa quando se come a presença. Mas às vezes a saudade é tão profunda que a presença é pouco: quer-se absorver a outra pessoa toda. Essa vontade de um ser o outro para uma unificação inteira é um dos sentimentos mais urgentes que se tem na vida.

...Existe um ser que mora dentro de mim como se fosse a casa dele, e é. trata-se de um cavalo preto e lustoso que apesar de inteiramente selvagem – pois nunca morou antes em ninguém nem jamais lhe puseram rédeas nem sela – apesar de inteiramente selvagem tem por isso mesmo uma doçura primeira de quem não tem medo: come às vezes na minha mão. Seu focinho é úmido e fresco. eu beijo o seu focinho. quando eu morrer, o cavalo preto ficará sem casa e vai sofrer muito. a menos que ele escolha outra casa e que esta outra casa não tenha medo daquilo que é ao mesmo tempo selvagem e suave. aviso que ele não tem nome: basta chamá-lo e se acerta com seu nome. ou não se acerta, mas, uma vez chamado com doçura e autoridade, ele vai. se ele fareja e sente um corpo-casa é livre, ele trota sem ruídos e ai. aviso também que não se deve temer seu relinchar: a gente se engana e pensa que é a gente mesma que está relinchando de prazer ou de cólera, a gente se assusta com o excesso de doçura do que é isto pela primeira vez.

Só o que está morto não muda! Repito por pura alegria de viver: A salvação é pelo risco, Sem o qual a vida não vale a pena!!!"

Viver em sociedade é um desafio porque às vezes ficamos presos a determinadas normas que nos obrigam a seguir regras limitadoras do nosso ser ou do nosso não-ser... Quero dizer com isso que nós temos, no mínimo, duas personalidades: a objetiva, que todos ao nosso redor conhece; e a subjetiva... Em alguns momentos, esta se mostra tão misteriosa que se perguntarmos - Quem somos? Não saberemos dizer ao certo!!! Agora de uma coisa eu tenho certeza: sempre devemos ser autênticos, as pessoas precisam nos aceitar pelo que somos e não pelo que parecemos ser... Aqui reside o eterno conflito da aparência x essência. E você... O que pensa disso?

À duração da minha existência dou uma significação oculta que me ultrapassa. Sou um ser concomitante: reúno em mim o tempo passado, o presente e o futuro, o tempo que lateja no tique-taque dos relógios.

RIFA-SE UM CORAÇÃO
Rifa-se um coração quase novo.
Um coração idealista.
Um coração como poucos.
Um coração à moda antiga.
Um coração moleque que insiste em pregar peças no seu usuário.
Rifa-se um coração que na realidade está um pouco usado, meio calejado, muito machucado e que teima em alimentar sonhos e, cultivar ilusões.
Um pouco inconseqüente que nunca desiste de acreditar nas pessoas.
Um leviano e precipitado coração que acha que Tim Maia estava certo quando escreveu...
"...não quero dinheiro, eu quero amor sincero, é isso que eu espero...".
Um idealista...Um verdadeiro sonhador...
Rifa-se um coração que nunca aprende.
Que não endurece, e mantém sempre viva a esperança de ser feliz, sendo simples e natural.
Um coração insensato que comanda o racional sendo louco o suficiente para se apaixonar.
Um furioso suicida que vive procurando relações e emoções verdadeiras.
Rifa-se um coração que insiste em cometer sempre os mesmos erros.
Esse coração que erra, briga, se expõe.
Perde o juízo por completo em nome de causas e paixões.
Sai do sério e, às vezes revê suas posições arrependido de palavras e gestos.
Este coração tantas vezes incompreendido.
Tantas vezes provocado.
Tantas vezes impulsivo.
Rifa-se este desequilibrado emocional que abre sorrisos tão largos que quase dá pra engolir as orelhas, mas que também arranca lágrimas e faz murchar o rosto.
Um coração para ser alugado, ou mesmo utilizado por quem gosta de emoções fortes.
Um órgão abestado indicado apenas para quem quer viver intensamente contra indicado para os que apenas pretendem passar pela vida matando o tempo, defendendo-se das emoções.
Rifa-se um coração tão inocente que se mostra sem armaduras e deixa louco o seu usuário.
Um coração que quando parar de bater ouvirá o seu usuário dizer para São Pedro na hora da prestação de contas: "O Senhor pode conferir. Eu fiz tudo certo, só errei quando coloquei sentimento.
Só fiz bobagens e me dei mal quando ouvi este louco coração de criança que insiste em não endurecer e, se recusa a envelhecer"
Rifa-se um coração, ou mesmo troca-se por outro que tenha um pouco mais de juízo.
Um órgão mais fiel ao seu usuário.
Um amigo do peito que não maltrate tanto o ser que o abriga.
Um coração que não seja tão inconseqüente.
Rifa-se um coração cego, surdo e mudo, mas que incomoda um bocado.
Um verdadeiro caçador de aventuras que ainda não foi adotado, provavelmente, por se recusar a cultivar ares selvagens ou racionais, por não querer perder o estilo.
Oferece-se um coração vadio, sem raça, sem pedigree.
Um simples coração humano.
Um impulsivo membro de comportamento até meio ultrapassado.
Um modelo cheio de defeitos que, mesmo estando fora do mercado, faz questão de não se modernizar, mas vez por outra, constrange o corpo que o domina.
Um velho coração que convence seu usuário a publicar seus segredos e a ter a petulância de se aventurar como poeta.

Bob Marley - Pensamento

"Os ventos que às vezes tiram algo que amamos são os mesmos que trazem algo que aprendemos a amar... Por isso não devemos chorar pelo que nos foi tirado e sim, aprender a amar o que nos foi dado. Pois tudo aquilo que é realmente nosso, nunca se vai para sempre"...


Bob Marley

Tema de destaque 9 - As Doenças da Alma

Infelizmente, estamos diante de um problema de grandes proporções, que vai além do universo feminino. É inerente ao ser humano, quer esteja vivo de fato, ou simplesmente seja mais um sobrevivente da controversa sociedade contemporânea. Há até pouco tempo, quando se falava de algumas doenças em particular, fazia-se referência a grupos de risco ou ao fator genético herdado pelo histórico familiar. Hoje em dia, basta ser gente pra ser acometido pelo maior dos males da humanidade: a doença da alma. Quantos de nós não temos pra contar o caso de alguém próximo que sofreu as conseqüências de uma enfermidade rara, sem cura, sem explicação da origem, ou que foi descoberta em estágio terminal? O que dizer das doenças auto-imunes, que funcionam como um ataque do organismo a ele próprio, por acreditar, de uma hora para outra, que aquela área específica passou a ser um corpo estranho e precisa ser urgentemente aniquilada? E o câncer, mutação de células estranhas que crescem e se alimentam dos nossos nutrientes; sem comentários...

Quais são as razões para essa sucessão de perdas, danos, metamorfoses e mutações sem respostas aparentes, sem uma lógica inteligível à nossa forma de compreensão das coisas? Não há tempo de se defender, de dizer adeus, de realizar sonhos... Não é possível que ninguém se sinta incomodado com isso, que não queira rumos diferentes, que não tenha a vontade de cultivar o sonho de envelhecer até ficar com os cabelos bem branquinhos e com a pele bem enrrugadinha; sentar e tomar uma xícara de nostalgia com os mais jovens, se gabando dos feitos do passado! Será que estamos condenados de fato a desviar do caminho que realmente nos leva ao estado de saúde integral?

Não falo aqui como especialista no assunto, até porque, cada ser humano constitui um universo em si mesmo. Sendo assim, não tem como saber tudo sobre todos, o que seria uma falsa pretensão. É difícil opinar sobre nós mesmos, o que dirá sobre os outros... Contudo, chamo à atenção para a disseminação de alguns males que aparentemente surgem do nada, de forma avassaladora e em pessoas cada vez mais jovens. Registro aqui a experiência de uma mulher que optou por entender as origens dos seus próprios desajustes e que, exatamente por isso, encontrou-se em uma encruzilhada: exorcizar seus fantasmas ou dar continuidade ao ciclo vicioso de autoflagelação por meio da somatização de enfermidades que tinham origem na alma e se manifestavam no corpo físico.

Refletindo sobre o assunto, acabei me deixando sensibilizar pelo grupo de estudiosos da alma humana, como forma de buscar asilo e encontrar explicações para diversas manifestações da energia e das substâncias químicas ou originárias do nosso organismo, que ocorrem como resposta às descargas emocionais. Somos todos leigos ou temos o conhecimento bastante limitado sobre o assunto, mas as descobertas atuais são inegáveis, mesmo que não revelem tudo que se deva saber. Contudo, de todas elas, considero como mais importante a tomada de consciência. Não o conhecimento dos processos físicos nem das implicações técnicas científicas. Falo da tomada de consciência da unidade do conjunto de todas as partes que compõem o ser, bem como das relações de interdependência e interações que cada um desses universos desenvolve entre si. Falo daquele lampejo que nos remete à sensação de ter acabado de pensar em uma grande idéia. Aquela sensação do jovem que descobriu o mundo, sendo nesse caso, o nosso mundo interior.

Na roda viva em que nos encontramos hoje, de tudo precisamos saber um pouco, sendo que não dispomos de tempo para mais nada além da sobrevivência. Nesse mundo frenético e acelerado, não nos permitimos sentir em profundidade, tampouco compreender origens, efeitos e desdobramentos das experiências. Aguçar a percepção sistêmica é algo filosófico demais para quem tem pressa. Temos a sensação de que se pararmos um pouco, mesmo que seja para tomar fôlego, seremos atropelados pelo rolo compressor da vida. Seremos deixados para trás sem a chance de retomar a linha de frente. Não importa se não sabemos onde estamos indo. A lei suprema nos impele a acompanhar a multidão e seguir sempre em uma direção qualquer que seja ela. O primeiro resultado dessa dinâmica rebate no sentimento de vazio, na falta de sentido, na frustração em função da sensação de perda da autonomia sobre as nossas próprias escolhas.

Certa vez, ouvi a descrição de algo parecido, a partir da analogia com a escolha de frutas em um pomar. Sucessivamente, em importantes fases da vida, o indivíduo tomava a decisão de escolher a fruta que acreditava fornecer o alimento necessário à alma naquele determinado momento. Contudo, sempre acabava escolhendo outra, devido a diversos fatores circunstanciais. No final de um tempo, sentia-se confuso e em parte, perdido em seu próprio mundo. Não sabia se aquela trajetória tinha sido fruto de suas convicções ou se apenas tinha sido levado pelo vento que soprou na direção mais forte. Por essas e outras razões, pessoas aparentemente saudáveis adoecem por dentro. O desequilíbrio entre o atendimento ao chamado do mundo externo e o do coração nos conduz a uma situação de fragilidade, estando mais suscetíveis à deterioração da nossa carapaça coloidal. As sucessivas e, às vezes, ininterruptas descargas emocionais consideradas nocivas ao organismo fomentam repetidas tendências de experimentação dos sentidos, resultando em somatizações, que nada mais são do que estigmas da alma no corpo.

Portanto, entender minimamente sobre nós mesmos, sobre nossas referências, origens e sentimentos, é o passo indispensável para quem quer se proteger desses males intangíveis. É a vacina e ao mesmo tempo o antídoto; a cura e a prevenção. É a fonte de todas as respostas, para todos os enigmas do universo, para as razões de sermos quem somos, de existirmos. Por tudo isso, tenho um desejo do tamanho do mundo. Parece factível à primeira vista, mas requer o mergulho no autoconhecimento, que é um caminho imprevisível, intenso e repleto de surpresas, sem falar que dura para todo o sempre. É o caminho que leva à integralidade, à plenitude, ao pote de ouro escondido em cada um de nós. Depois dessas descobertas, para compreender melhor como minhas emoções se manifestam, e até para poder conduzi-las ao que se entende como uma condição de equilíbrio. Não consigo começar minha jornada sem desejar algo diferente.

No fundo, para ser inteira, quero ter a sensação de ser livre sem atropelar os outros e de me sentir grande sem ter que ser maior do que a outra pessoa para me sentir segura comigo mesma. Quero ser livre para viver o que sinto por dentro, sabendo respeitar as diferenças de forma lícita, conhecida, anunciada, sem ter a necessidade de testar meus limites em termos de competição, em função dos meus medos ou dos meus traumas. Quero sentir-me livre de mim mesma, crescer, sair de mim e perder todos os pudores. Não tenho a pretensão de ser nem doida nem santa, apenas de ser eu mesma. Ser um ponto de interseção entre as limitações do mundo concreto e a abundância inerente à eternidade da alma, a materialização do intangível, a revelação da grandiosidade do ser humano. E na minha pequenez, consolidar os três mundos em um só: mente, corpo e alma.