"Renda-se, como eu me rendi.
Mergulhe no que você não conhece como eu mergulhei.
Não se preocupe em entender, viver ultrapassa qualquer entendimento."

(Clarice Lispector)

O Beijo

O Beijo
Gustav Klimt (1907)
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quinta-feira, 28 de abril de 2011

Aniversário de um ano do blog

Há um ano lancei-me na aventura de criar um blog para falar sobre o universo feminino. Era um tempo de mudanças, algumas delas de natureza emocional e outras em função do próprio fluxo da vida. Na época, lancei o desafio de explorar a mente feminina em um ano. Passado esse período, não cheguei nem perto de esgotar os diversos assuntos que surgem na mente de uma mulher.  
Só posso dizer que, apesar de todos os atropelos e dificuldade em manter um fluxo mais constante de postagens, a experiência vem sendo altamente positiva e, em função disso, pretendo continuar com o projeto. Agora com uma diferença: nada de prazos!!!
Seguirei meu coração na medida do possível e de acordo com as inspirações com as quais eu me deparar no decorrer do caminho. Tantas novidades aconteceram e a mais importante delas foi a vinda de mais um filho. Agora serei mãe de dois, Carlos Rodrigo de 3 anos e Beatriz que está no ninho.
Espero que meus escritos tenham servido para todos que leram, no sentido de desmistificar as lendas que giram em torno das mulheres. Somos complicadas, mas também perfeitinhas! Doidas, mas também santas.  E acima de qualquer categoria somos gente.
Um aspecto bastante positivo que vem contribuindo para o meu crescimento é a percepção de que quando escrevo sabendo que outras pessoas irão ter acesso aos meus pensamentos, busco me esforçar mais para ser inteligível. Com isso, e ao colocar os sentimentos no papel, acabo entendendo melhor o que acontece comigo.
Espero que as pessoas que convivem diretamente comigo também tenham sentido alguma diferença positiva como resultado da influência do blog. Faz parte da minha cultura de aprendizado crer que os ganhos se tornam mais concretos quando ocorrem de forma conjunta. Não faria muita diferença se os benefícios se revertessem apenas para a minha pessoa.
Agradeço aos amigos que se tornaram seguidores para darem força ao blog; aos curiosos e desconhecidos que também se tornaram seguidores por sentirem algum tipo de afinidade com o assunto e a cada experiência que deu margem à minha imaginação feminina.

quarta-feira, 27 de abril de 2011

Tema de destaque 25 - Vida e a força que liberta

Ao atravessar as etapas da vida, cada pessoa vai moldando sua forma personalizada de descobrir o mundo e internalizar o aprendizado de cada fase marcante. Por isso, é comum dizer que não há receitas que sirvam a todos. Cada ser é um mundo à parte e cada parte tem uma infinidade de pedaços oriundos de um conhecimento ainda não processado. Além disso, tem um pequeno detalhe que a maioria de nós se esquece de considerar no momento de se auto afirmar e querer criar asas: as nossas amarras.

Desde a infância, somos influenciados pelos hábitos familiares, pelas convenções sociais, pela orientação sexual, enfim, por uma infinidade de valores aceitos e pregados pelo mundo, mas que nem sempre se afinam com o que somos por dentro. Assim, surgem os primeiros choques, necessários ao nosso desenvolvimento, contudo, marcantes em termos de transformação.

Além desses valores, destacam-se as projeções, os sonhos não vividos de nossos progenitores. Aquela coisa da mãe que sonha com uma filha bailarina ou o pai que aguarda um pequeno herdeiro para dar seguimento aos negócios da família. É uma bagagem que nos acompanha antes mesmo de existirmos. Um lugar comum... Nem tanto.

É no imenso aglomerado de iguais que nasce a diferença. Alguém que ousou gritar que não crê no mundinho milimetricamente calculado e vendido como bem sucedido. Alguém que se fez liberto e menos contido e decidiu ser diferente para ser autêntico, alguém que ficou sufocado e teve a necessidade de respirar um ar menos impregnado de hipocrisia e mais maleável à variabilidade do tempo.

Não prego que o ideal seja se encaixar acima da lei, mas ficar inteiramente submerso em um mar de regramentos dogmáticos também não é nada saudável. Encontrar o equilíbrio que confere a liberdade criativa é o desafio da vez. Essa busca perpassa outro tipo de encontro: o do eu interior.

O ponto chave da vida de cada ser humano é aquele onde se exprime um mínimo de autoconhecimento para que seja possível olhar o mundo e saber a qual lugar pertence, quem ele é e o que lhe faz feliz. Não existe uma data marcada para que isso aconteça, porém, muitas pessoas nunca se permitem embarcar nessa viagem e acabam passando pela vida sem um envolvimento profundo. E no final de tudo tentam correr para recuperar o tempo desperdiçado.

A boa notícia é que, embora existam forças que nos amarram as pernas, deixam os braços atados, calam a voz e cegam os olhos, existem aquelas que nos libertam. O amor é uma delas. Talvez a mais intensa de todas. Em se tratando do amor romântico, é possível dizer que esse sentimento se expressa por ciclos e se renova a cada fase vindoura, a cada nova experiência.

No início, ainda impregnados pelo cheiro da paixão, os dois seres extravasam energia. É uma fonte da mais pura criatividade que, intrinsecamente, dá asas. São movidos pela força do eros interior e acabam se tornando do tamanho do mundo. E fazendo um parêntese, acredito que a maior capacidade do ser que ama é persistir e ser tenaz para lutar contra os obstáculos do caminho e a favor do bem comum de ambos.

Quando o estágio inicial é ultrapassado e são formados laços de uma ligação construtiva e embasada no companheirismo, surge uma nova fase do amor. É o tão famoso amor que move montanhas e atravessa o tempo. Que faz com que o outro se torne uma complementação da nossa essência sem necessariamente integrar nossa estrutura. É uma parte que nos completa pelo fato de funcionar como um espelho que inspira conhecimento e principalmente por despertar em nós o desejo de ser alguém melhor.

Afinal, quando estamos ao lado de quem nos faz bem, mesmo que indiretamente, esperamos cultivar nossos talentos para oferecermos algo à altura do que recebemos. E assim, o relacionamento a dois se concretiza como uma jornada da alma ao mesmo tempo individual e acompanhada. É a maneira mais rica de se descobrir o mundo e a si mesmo.

Então, que venha o amor. Quente, frio ou morno. Mas que não seja fatal. Que habite em nossos corações a vontade constante de compartilhar a vida, de dividir responsabilidades e de somar sonhos. Que sejamos o instrumento revigorante da esperança e do otimismo, a prova viva de que o mundo pode e deve ser um lugar onde ser feliz é o caminho a ser percorrido por todos, destacando, contudo, que ser feliz sozinho não tem muita graça.

Que venha a falta de vergonha; um pouco comedida e não muito desvairada. Que seja do tamanho da necessidade que limita o rompimento dos medos e das amarras. Que liberte os receios e promova a voz de quem entende do que está falando: o coração. Espero que com toda essa revolução de sentimentos sejamos um tanto menos mecânicos e um pouco mais sentimentais.

Que impere a massa de seres confiantes. Aqueles que apostam na intuição que irradia do fundo da alma, que canta o percurso exato de pisar e guiar os pés. Apenas não nos esqueçamos da voz que nos suplica para resistir aos atropelos e seguir em frente sempre; ela é a mesma que nos sussurra que devemos ter calma, indulgência e vigilância constante.