"Renda-se, como eu me rendi.
Mergulhe no que você não conhece como eu mergulhei.
Não se preocupe em entender, viver ultrapassa qualquer entendimento."

(Clarice Lispector)

O Beijo

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Gustav Klimt (1907)
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terça-feira, 13 de julho de 2010

Tema de destaque 7 - O Casamento


Depois de algum tempo, é comum pensarmos a respeito dos aprendizados oriundos da relação a dois. É um processo de reflexão individual e intransferível. Então, pensando dessa forma, pode-se dizer que é um caminho necessário para alguns tipos de transformações imprescindíveis ao amadurecimento do ser humano. Existem aqueles que passam por tudo de forma superficial. Enquanto outros vão tão fundo que se afundam literalmente. Por isso, a nossa capacidade reflexiva entra em prática; para nos dar mais uma chance. Não aquela chance de voltar no tempo e fazer tudo novamente, mas a chance de entender a razão de ser das coisas e conseguir fazer melhor numa segunda vez, mesmo que em outro contexto, em outra época, em outro lugar... O que importa de verdade é internalizar o aprendizado de forma positiva e produtiva. Sem medos e sem culpas. Pensando nisso, listei os aspectos principais da minha breve experiência. São algumas situações do cotidiano da vida a dois, que podem contribuir para o bem ou para o mal. Depende apenas de nós.

Situação 1: saber pactuar as regras e cumpri-las
Isso é muito importante para a convivência. Quando as regras estão bem definidas e aceitas por ambas as partes, fica mais fácil administrar as diferenças. Por exemplo: colocar a roupa suja no lugar certo, fazer as compras quando diz que vai fazer, sei lá, essas pequenas coisas. Quando meu filho nasceu e eu escolhi a amamentação exclusiva até os 6 meses, nunca pedi que o meu marido acordasse pra me ajudar à noite, não achava justo. Eu não estava trabalhando enquanto ele tinha dobrado os plantões pra complementar o orçamento da casa. Existem as regras explícitas e as tácitas e quando elas são legítimas passamos a ter confiança nas atitudes do outro e entendemos que se algo não foi cumprido é porque houve imprevistos e não porque o outro não deu importância.

Situação 2: manter a individualidade sem prevalecer o individualismo
Todo mundo precisa daquele momento de solidão para as reflexões, pensar, processar os acontecimentos da vida, sair com os amigos, enfim, saber que é uma pessoa independentemente de ser um casal, não somos uma única carne no mundo real. Contudo, é necessário cultivar hábitos comuns pra estar em sintonia com o outro. Desde o namoro, o meu marido tinha a 5ª feira pra sair com os amigos. Nunca proibi, nem fui atrás, nem liguei pra ele voltar logo ou confirmar com quem estava. É o momento dele e esse hábito perdura até hoje, com menor freqüência, mas por conta do trabalho dele e de algumas complicações domésticas e não por interferência da minha parte. Também não abro mão dos meus momentos. Gosto de estudar, de ler, de conversar com as minhas amigas, assistir a filmes cabeça,dançar, essa é a hora que tenho para cultivar a minha plantinha interior. Aqui foi um ponto crítico para a minha relação. Como ele não tinha a necessidade de interagir de forma tão intensa como eu, ou não sabia fazer, se acostumou ao fato de eu ocupar o espaço que era dele com outras coisas e outras pessoas. Falamos várias vezes a respeito. Sofri, senti um vazio enorme, mas acabei me acostumando também.

Situação 3: saber a hora de calar e de falar
Essa é uma das partes mais difíceis. Mulher adora reclamar, é um hábito que temos pra desabafar. E homem adora fingir que é surdo. Mas com o tempo, descobrimos como fazer isso de forma construtiva, com respeito, sem ter que passar na cara o que falhou ou o que julgamos ser errado no outro. Tem hora que a frase menos indicada a ser dita é eu sabia, ou eu te avisei. Se não tiver algo positivo pra falar nessas horas é melhor ficar calado. Apenas chegar junto, abraçar e dizer que outras chances irão aparecer para que as coisas sejam feitas de uma forma melhor. E que você estará do lado pra o que der e vier. É uma boa oportunidade para destacar as conquistas do outro, mostrar o quanto ele é especial, ajudar a levantar o moral, ser indulgente. Da mesma forma, é preciso saber a hora certa de estabelecer limites.

Situação 4: saber conversar
Ao conversarmos, estabelecemos um canal de diálogo que, depois de exercitar muito, proporciona ao casal mais clareza no ato de expressar os pontos de vista, a forma de ver e de sentir o mundo até facilita a percepção sobre o outro. Sempre falei tudo o que eu sentia, de forma didática e construtiva, tentando dar todos os detalhes que ele precisava para entender os acontecimentos. Também gosto de ouvir e prestar atenção nos detalhes do parceiro. Com o tempo, só pelo tom de voz se percebe em que pé estão as coisas. Nessas horas também é imprescindível saber pedir desculpas e perdoar. Quanto mais se pratica o diálogo, maior fica a nossa capacidade de se fazer entender e de compreender a linguagem do outro.

Situação 5: casar com a família do outro
Já ouviu aquele ditado que diz que também casamos com a família? É a mais pura verdade. Temos que ter tolerância a certas coisas, saber respeitar os hábitos da casa da sogra, às vezes até se fazer de surdo. No início, a minha sogra e eu tivemos que passar por ajustes. Aprendemos juntas que nós duas temos o nosso espaço. Eu nunca vou ser a mãe e ela nunca vai ser a esposa. Cada uma tem sua importância. Hoje ela é minha segunda mãe e realmente me trata como uma filha. É uma ótima companhia e já me deu a mão em momentos muito delicados. Já morei na casa dela no 1º ano de casamento, enquanto meu marido fazia o 4º ano de residência fora. Quando fui para a minha casa sofri na despedida. Aprendemos a ser amigas e fomos além das formalidades.

Situação 6: descobrir o que realmente lhe faz feliz independente do outro
Essa é uma pergunta difícil de ser respondida, mas quando conseguimos, é simplesmente tudo de bom! O que realmente me faz feliz é pensar, refletir sobre as coisas da vida e interagir com as pessoas. Brota uma sensação tão boa quanto estou pensando em algo criativo, escrevendo, fazendo analogias ou jogando conversa fora. Eu tenho os meus sonhos e ambições de vida e tento construir um futuro favorável para alcançá-los. Também tenho os sonhos a dois, os de família, mas preciso estar bem comigo mesma antes de me aventurar com os outros.

Situação 7: aprender a fazer as leituras subliminares
Essa parte é uma das que mais gosto. Só pelo olhar já sabemos o que fazer. Às vezes, pequenas atitudes vale mais do que dizer eu te amo de forma automática ou dar uma coisa simplesmente, como uma compensação. Aguçar a percepção sobre o outro ajuda o aprendizado de cuidar, facilita entender os conflitos, as situações difíceis, o momento certo de falar ou ficar calado. É quando descobrimos se realmente nos conhecemos e principalmente, se conhecemos o outro. Esse processo nunca se finda, afinal nunca estaremos prontos.

Situação 8: ter consciência do que pode o do que não pode abrir mão
Esse foi o meu ponto fraco. Em toda relação a dois, nunca estaremos completamente satisfeitos nem somos capazes de atender a todas às necessidades do parceiro. O importante é encontrar o ponto de equilíbrio, o reconhecimento daquilo que é essencial, daí, o resto é lucro e poderá ser conquistado ou não. O ideal é começar pelas coisas mais fáceis até ousarmos fazer maiores sacrifícios. No meu caso, sempre me coloquei na condição de entender, de ser solícita, estar disponível, de abrir mão sem dar o espaço para o outro viver o seu papel de provedor. Isso não é saudável pra nenhum dos dois. Dessa forma, um sempre fica com a sensação de que está dando tudo e recebendo de menos. O fato de termos personalidades extremamente diferentes contribuiiu para isso, mas chega uma hora que as coisas devem tomar o devido lugar. A relação implica uma via de mão dupla, com ambos assumindo seus papéis e fazendo as concessões possíveis.

Situação 9: alternar entre quem segura a barra nas fases difíceis
Todo mundo tem seus momentos de altos e baixos, assim como a própria relação. Dessa forma, precisamos ter clareza da hora em que nós devemos ser os protagonistas ou mostrar que precisamos de ajuda, de mais empenho do outro. Ter uma postura pró-ativa ou reconhecer as fragilidades e saber pedir ajuda, favorece a cumplicidade, o companheirismo, reforça o sentimento de parceria e dá aquela certeza de que tem uma mão por trás da gente. É como a criança que vai aprendendo a caminhar com alguém cercando do lado pra segurar e ajudar a levantar se ela cair. No meu 1º ano de casamento assumi sacrifícios por nós dois. Teve o lado bom e o ruim, como tudo na vida. Quando chegou a minha vez de largar tudo e ele se sacrificar mais, também tive todo o apoio de que precisava.

Situação 10: entregar-se sem reservas
Essa parte dá medo na maioria das pessoas. Já para mim, que sou muito dada e intensa por natureza, é até um prazer. Descobri que quanto mais se dá, mais se recebe. Mesmo quando não recebemos exatamente aquilo que desejamos, percebemos que o outro entende as nossas necessidades e fica ciente de como poder melhorar, mesmo que não o faça. Além disso, a entrega total aumenta a nossa autoconfiança. Também contribui para a unidade do casal porque o outro nos vê por inteiro. Quando amamos profundamente uma pessoa, certas coisas são apenas detalhes.

Sei que cada um tem uma forma peculiar de vivenciar essas situações e talvez até nem tenha vivido algumas delas. Pessoas mais experientes podem se deparar com os meus comentários e sussurrar: ah coitada, tão inocente, ainda tão crua... Mas assim é o mundinho de cada um: cheio de surpresas, desafios, lutas, conquistas, derrotas, alegrias, histórias pra contar. Somos o reflexo da sobreposição dos nossos sonhos com as limitações das nossas potencialidades, temperados com uma pitada de estilo, ousadia e fé em si mesmo.

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