"Renda-se, como eu me rendi.
Mergulhe no que você não conhece como eu mergulhei.
Não se preocupe em entender, viver ultrapassa qualquer entendimento."

(Clarice Lispector)

O Beijo

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Gustav Klimt (1907)
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sexta-feira, 23 de julho de 2010

Almas Perfumadas (por Carlos Drummond de Andrade)



Tem gente que tem cheiro de passarinho quando canta.
De sol quando acorda.
De flor quando ri.
Ao lado delas, a gente se sente no balanço de uma rede que dança gostoso numa tarde grande, sem relógio e sem agenda.
Ao lado delas, a gente se sente comendo pipoca na praça, lambuzando o queixo de sorvete, melando os dedos com algodão doce da cor mais doce que tem pra escolher.
O tempo é outro.
E a vida fica com a cara que ela tem de verdade, mas que a gente desaprende de ver.
Tem gente que tem cheiro de colo de Deus.
De banho de mar quando a água é quente e o céu é azul.
Ao lado delas, a gente sabe que os anjos existem e que alguns são invisíveis.
Ao lado delas, a gente se sente chegando em casa e trocando o salto pelo chinelo, sonhando a maior tolice do mundo com o gozo de quem não liga pra isso.
Ao lado delas, pode ser abril, mas parece manhã de Natal do tempo em que a gente acordava e encontrava o presente do Papai Noel.
Tem gente que tem cheiro das estrelas que Deus acendeu no céu e daquelas que conseguimos acender na Terra.
Ao lado delas, a gente não acha que o amor é possível, a gente tem certeza.
Ao lado delas, a gente se sente visitando um lugar feito de alegria, recebendo um buquê de carinhos, abraçando um filhote de urso panda, tocando com os olhos os olhos da paz.
Ao lado delas, saboreamos a delícia do toque suave que sua presença sopra no nosso coração.
Tem gente que tem cheiro de cafuné sem pressa, do brinquedo que a gente não largava, do acalanto que o silêncio canta, de passeio no jardim.
Ao lado delas, a gente percebe que a sensualidade é um perfume que vem de dentro e que a atração que realmente nos move não passa só pelo corpo.
Corre em outras veias.
Pulsa em outro lugar.
Ao lado delas, a gente lembra que no instante em que rimos Deus está conosco, juntinho ao nosso lado.
E a gente ri grande, que nem menino arteiro.

8 comentários:

  1. Adoooooro Almas Perfumadas... Combina com pessoas que conheco...

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  2. Este texto foi escrito por Ana Claudia Saldanha Jacomo, a escritora a qual fui ao lançamento do seu livro Parto de mim. Creio que Drummond não escreveria um texto tão deliciosamente feminino. Ana Jacomo o escreveu em memoria de sua avó Edith, por quem nutria enorme afeto e sentiu muito sua partida.

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  3. Afinal, este texto maravilhoso foi escrito por quem? Drumond ou Ana Cláudia Saldanha?

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  4. Penso que esse texto poético não fpi escrito por Carlos Drumond.
    Já li outras poesias de Ana Cláudia Saldanha e " Almas Perfumadas" trás a sua marca registrada :feminilidade e ludicidade,

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  5. Este é mais um poema divulgado na net com erro de autoria, que pertence mesmo a Ana Cláudia Saldanha Jácomo

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