"Renda-se, como eu me rendi.
Mergulhe no que você não conhece como eu mergulhei.
Não se preocupe em entender, viver ultrapassa qualquer entendimento."

(Clarice Lispector)

O Beijo

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Gustav Klimt (1907)
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segunda-feira, 9 de maio de 2011

Tema de destaque 26 - Férias em família

Aquela visão mais parecia a própria manifestação do Apocalipse. O sol quente na cabeça, quatro crianças pequenas gritando no pé do ouvido, uma pequena aglomeração de idosos, uma gestante, duas sogras, um sogro, uma cunhada, duas irmãs com os respectivos maridos e o sangue à flor da pele é claro!
Depois de alguns dias convivendo continuamente com 13 membros da mesma família, a chegada a um parque temático da Disney, inteiramente lotado, só poderia se assemelhar a uma cena do fim do mundo. Para completar, um feriado prolongado fazia a multidão se multiplicar por dois, ou até três!
Nunca pensei que esse tipo de passeio desse tanto trabalho. Só pensava em férias, sombra e água fresca, acordar preguiçosa e sem saber qual era o dia da semana. Mas não foi bem assim que aconteceu.
Os dias começavam já na noite anterior, quando as mochilas das crianças eram cuidadosamente arrumadas. Uma muda de roupa, o lanche nutritivo e o gostoso, água, fralda para o bebê, um brinquedo para distrair nos momentos de tédio, agasalho, documentos e tudo aquilo que uma mãe precavida possa julgar necessário.
Ao amanhecer, o despertador tocava e todos corriam em uma determinada direção. Depois de duas noites, o despertar já não ocorria de imediato e uma preguiça teimava em atrasar a turma. Quando conseguíamos ficar prontos, secávamos o suor do rosto e seguíamos em direção aos carros.
Os três motoristas checavam as baterias dos seus apetrechos de navegação e atualizavam os novos endereços no GPS. Já tínhamos baixado os mapas de toda a região e assim, conseguíamos chegar a qualquer destino. Bastava escolher: rota mais rápida ou mais curta. Eu amo a tecnologia, não sei como estar antenada a todas as novidades que surgem, mas reconheço que a criatividade do ser humano é capaz de mover montanhas.
A chegada ao parque era sempre uma alegria. Foto daqui, foto dali e muitos sorrisos. De todas as caras alegres que cruzavam o meu olhar, preferia admirar o encantamento escancarado nos olhos virgens das crianças que só conheciam aquela realidade pela televisão. Era uma expressão mais linda que a outra.
Terminado o romantismo, vamos à realidade. Imaginem só a loucura de reunir esse povo todo naquela imensidão! Ai, ai, ai... Era esquecimento disso ou daquilo. Quando o pé de um parava de doer o grupo esperava o outro ir fazer xixi. Perde daqui, acha dali. E a fome. Nossa, quando essa aí chegava era melhor ninguém se olhar muito porque saía faísca. Só perdia para a espera incansável de 90 minutos na fila de uma atração. E no fim dor nas costas, nos pés, na cabeça, nas juntas...
E assim foi. Os dias passaram, a semana chegou ao último ponto e mesmo com todas as verdades que foram ditas em tom de irritação, o que ficou de lembrança foi o sentimento de congregação. O aprendizado foi para todos. As crianças observaram as limitações com os idosos que, por sua vez, lembraram o tempo em que cuidavam dos seus pequenos.
Mesmo com todas as piadas que contam sobre os problemas que surgem quando se vive em família, algumas até em tom de ironia e sarcasmo, só posso dizer que para mim predomina a alegria de compartilhar meus momentos felizes e infelizes com pessoas muito queridas. E quanto maior ela for maior, sabemos que maior será o barulho, os atropelos, as confusões e até a efervescência da falta de paciência. Mas o que fica desses tempos de turbulência boa não tem preço.
Quando penso na minha família, a primeira coisa que se destaca é a nostalgia dos tempos de infância na casa da minha avó. Foi uma época tão boa que não dá para esquecer nem fingir que não aconteceu. Só de sentir alguns cheiros e aromas, lembro o sabor da comida caseira feita na hora e servida para todos numa mesa sem fim.
Outra boa lembrança é sobre o convívio com meus primos. Alternávamos as férias entre uma casa e outra e ficávamos sempre juntos. Passávamos horas jogando “War”, brincando na rua ou na praia quase deserta. Foram bons tempos aqueles. Tão bons que deixaram o sabor de quero mais, o desejo de se reencontrar para mais um papo e saber como a vida anda.
Só sabe a falta que a família faz quem já perdeu a sua ou quem nunca viveu sob o teto de uma. Existem exceções para tudo, mas sobre esse assunto, creio que no fundo, todo mundo gosta de saber que tem um ninho, um porto seguro entre os seus para correr nos momentos de crise e para celebrar as alegrias.
Imagino que esse tenha sido o sucesso da nossa viagem em família. Deixamos os laços de respeito e os sentimentos de bem querer se sobreporem aos desagastes que todo ser humano enfrenta no dia a dia. Agora só preciso de férias dessas férias para voltar ao gás de sempre.

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