"Renda-se, como eu me rendi.
Mergulhe no que você não conhece como eu mergulhei.
Não se preocupe em entender, viver ultrapassa qualquer entendimento."

(Clarice Lispector)

O Beijo

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Gustav Klimt (1907)
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segunda-feira, 19 de abril de 2010

Tema de destaque 2 - Mulher Macho Sim Senhor!

A inspiração para esse tema, inclusive para o título, brotou das minhas origens nordestinas. Sempre que surgiam situações em que as pessoas fraquejavam ou ficavam em cima do muro, eis que surgia a famosa expressão: tem que ser um cabra muito macho para dar conta disso!!!! Hoje, vejo que muitas mulheres conseguem honrar suas calças de forma mais contundente do que muitos homens que circulam por aí. Daí, fazendo uma analogia acerca dos grandes feitos das mulheres da vida real, de carne e osso, que dão sustentação à sociedade atual com o mito do herói, eu pergunto, como reconhecer uma heroína nos tempos de hoje e qual a relevância disso para a melhoria da vida das pessoas? É verdade, agora fui longe mesmo, mas que tal começar com as heroínas que já conseguiram transpor as barreiras do tempo? Desde muito nova tive um encantamento pela história de Joana d'Arc. Em 1429, seguindo as "vozes" que ouvia já há alguns anos, a jovem Joana atravessa boa parte da França para convencer o rei e assumir a ofensiva na guerra contra os ingleses. Morreu queimada viva dois anos depois, condenada como herética. No século XX virou santa e foi tida como libertária por algumas correntes do feminismo. Percebo que o meu encantamento por ela se traduz na bravura, no comprometimento com uma causa maior que ela mesma, no entendimento de sua razão de ser por meio da crença de que poderia mudar o mundo ao seu redor. Na luta insana de sobreviver a cada batalha, na tentativa de buscar forças e seguir em frente quando já não havia mais a possibilidade de colocar um pé na frente do outro. Destaco a importância que teve a fé na vida e em si mesma, bem como a certeza de sua missão neste mundo. Acredito que esses foram os principais legados em termos de modelos de conduta que poderíamos herdar de uma criatura tão singular. Então, qual a diferença da Joana lutadora, montada a cavalo e com espada em punho, das mulheres de carne e osso que sobrevivem às condições desumanas e precárias que prevalecem num contexto de extrema pobreza e injustiça social? Ou melhor, quais as similaridades com a heroína que virou santa e as mulheres que carregam na mão calejada a enxada para revolver a terra seca e infértil e alimentar dez filhos de um pai que se foi em busca de trabalho na cidade grande e nunca mais voltou? Por que não reconhecer o verdadeiro valor da multi-mulher dos dias de hoje que, além de ter herdado o seu legado tradicional ainda divide atribuições antes apenas assumidas pelos homens? A meu ver, somos todas iguais. No fundo, sabemos a nossa verdadeira vocação, a mensagem do nosso chamado interior. Acontece, que valores como bravura e sacrifício lícito foram transmutados ao longo das gerações e reduzidos ao uso da força por si só e à submissão. Parece que só entende a profundidade desses atributos aquelas mulheres que não vivem, mas apenas sobrevivem... A Maria Maria de Milton Nascimento, fruto de uma gente que ri quando deve chorar e não vive, apenas aguenta. E respondendo a mim mesma, creio que uma verdadeira heroína é reconhecida pelo amor universal, pela capacidade de transformar as dificuldades do cotidiano em desafios a serem vencidos independentemente do seu poder de munição, pelo dom de afinar a alma "de dentro pra fora, de fora pra dentro". É reconhecendo e cultivando a heroína que existe dentro de cada uma de nós que poderemos, verdadeiramente, transformar o mundo em um lugar onde prevaleça a esperança, o otimismo, a entrega, o cuidar, a sutileza do ato de estender a mão a um estranho e ajudá-lo a se reerguer e continuar seguindo em frente. Feliz. Segura. Certa de que cumpriu com o seu papel, mesmo que seja queimada viva na fogueira.

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